domingo, 23 de dezembro de 2012

tópicos nebulosos
garotos de filme iraniano
bíblias segundo a record
invasão da normandia
bolo de fubá da tua tia

vibrador elétrico
colônia para impregnar elevador
bicho de pelúcia
buquê de miosótis
cirurgia reparadora de epiglote

bodes para rituais
cabras marcadas para viver
coelho de panela da glenn close
fuga de galinhas em 3d

a vida é só um blockbuster
que você não vê

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

às vezes não é só o café fraco requentado num refratário barato
nem o pior filme do mundo na tela de 24 polegadas
não é teu vizinho comemorando um gol
nem o porteiro te avisando que tua encomenda chegou
não é aquela pessoa que te machucou de maneira irreversível
ou aquela que te pergunta quantos anos tem teu cachorro
não é o último gole de conhaque naquele dia quente demais
ou o pijama improvisado com qualquer coisa que saia do armário
não é aquela promessa quebrada pelo teu arquétipo fraco
nem a centésima tentativa de começar uma dieta
não é aquele talk show que destila gramáticas fora de uso
ou o manual de boas maneiras da tua avó
não é o último dvd daquele box do teu seriado predileto
nem a explosão do bueiro que não acertou tua cabeça
não é aquela muvuca ao redor do atropelado
ou a solidão de um idoso no globo repórter
às vezes é você saber
ao fim de uma caixa de lenços descartáveis
decorada com bexigas e confetes
que não é nada

e se você fosse
comigo pro nebraska
seguir a cientologia
de l. ron hubbard
que diz que nos desperta
uma consciência imortal
que diz que nos dá poderes
de deuses gregos
e se você fosse
comigo pra utah
seguir as visões
de joseph smith
tentar a poligamia
evitar o meu ciúme
e o consumo de cafeína
e se você fosse
comigo pra nova york
gritar oh lord
numa igreja do harlem
repetir my lord
numa igreja do bronx
fingir que não somos
turistas
você tem passaporte visto dólar?
oh, shit!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012


a gente pensa que se escrever um puta verso ele vai se abalar
mas ele tá com outra
a gente pensa que se apelar pra foto daquela coelhinha da playboy 86 ele vai ceder
mas ele tá com outra
a gente pensa que com uma citação de alguém do século V ele vai ficar nostálgico
mas ele tá com outra
a gente pensa que se tiver uma fratura exposta e uma pá de pinos na perna ele vai se comover
(eles costumam ser fãs de robocop)
mas ele tá com outra
a gente esgota as possibilidades as ideias as unhas os comprimidos
e ele
ele continua com outra
- amor é uma coisa besta -


não pensaríamos duas vezes caso alguma coisa saísse muito errada. e fomos até bastante corretos. sem par ou ímpar. sem melhor de três. sem bilhetes de despedida. sem versos que talvez dissessem:
 "de todos esses anos
tirando nossos enganos
até que fomos felizes"
e eu continuo ouvindo rush e me lembrando daquele dia que chamei de sagrado só porque te conheci.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

o mundo vai acabar
e eu ainda não fiz
uma piada sobre o niemeyer
eu tô
veja só
assistindo um programa espírita
alguma coisa sobre carmas
mas pensando em armas
glocks, pra ser mais exata
e em mosquitos
de 9 milímetros
um vizinho arrisca deep purple
em cordas
e eu não sei se é guitarra
ou vem de baixo
eu que parei de acreditar
em caminhões de mudança
e vidas passadas
a limpo
eu que mais uma vez
veja só, mais uma vez
deixei a porta aberta
pro caso de você voltar

domingo, 9 de dezembro de 2012

você devia acreditar em mim agora
eu vou cuidar de cachorros
em qualquer terreno de desova
de corpos esquecidos

sábado, 8 de dezembro de 2012

uma prece prum garoto
sozinho num canto
crescendo de um tanto
que dá até medo
uma flor prum menino
que tira de pétalas
bem quereres
testando poderes
de anti-heróis
uma ode prum homem
que embala o garoto
que carrega o menino
que se arrisca em labirintos
sem novelo de lã

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

a primeira vez que te vi
não teve a teresa
de manuel bandeira
eram minhas as pernas estúpidas
eu andava em l
feito cavalo de xadrez
eu tava com o dedão do pé inflamado
por conta de um alicate não esterilizado
eu tava descalça
por conta do dedão inflamdo
e do alicate não esterilizado
eu pensava num roteiro
prum filme de ação iraniano
eu carregava o cartão de um marceneiro
para que ele derrubasse as certezas
que eu ninava na parte de cima do beliche
eu quis te fazer uma carícia pela metade
e te receitar suplementos vitamínicos
aqueles cheios de abecedário
pra que entre nossas palavras
cruzadas
os espaços fossem grandes demais
para as três letras
de fim

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

quando eu acordo assim
meio hercule poirot
eu procuro na tua assinatura
os três pontos da ordem maçônica
eu penso em desmantelar famílias
claustrofobicamente confinadas
em sessenta metros quadrados
de convivência forçada
eu penso em usar polígrafo
ou estratégias de interrogatório
que merril flood e melvin drescher formularam
em algum momento dos anos 50
mas não esquenta
eu sou só uma velha garota
que procura o zíper
nas fantasias dos inimigos
do spectreman

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

e se eu te dissesse
que ando mudando os ganchos de lugar
só pra te acusar
de pendurar toalhas no lugar errado?
mesmo assim você ficaria?
e se eu te roubasse
dezessete minutos de vida
te oferecendo um trago
de um cigarro adulterado?
mesmo assim você ficaria?
e se eu ainda me superasse
em técnicas de tai-chi-chuan
para desprezar suas ideias
e te dizer fica zen?
mesmo assim você ficaria?
e se eu não movesse uma palha
pra livrar tua cara
pra te isentar da taxa
do barco de caronte?
mesmo assim você ficaria?
o formulário está preso na geladeira
preencha se quiser
volto às seis