sexta-feira, 20 de março de 2009

C.A. - Cortisólatras Anônimos



Quando você acha que já se viciou em tudo quanto é coisa, legal ou ilegal, seu dermatologista judeu que obviamente não está no seu convênio, fala que sua pele está viciada em cortisona. Sua dermatologista anterior, uma espanhola botoxilizada, não entendendo lhufas do que hoje foi diagnosticado como dermatite perioral, te receitou uma pomadinha com corticóides. Sua pele adorou isso, exigia cada dia mais do produto. Com mais alguns dias de uso, sua cara iria ficar ainda mais vermelha, espinhas e acnes do Movimento dos Sem Rosto armariam acampamento e não sairiam nem por decreto. E tudo se finalizaria com estrias irreversíveis, até você virar sósia do Chuck, o brinquedo assassino. Estou agora na reabilitação do cortisona, iniciando novo tratamento e rezando para que a abstinência não desencadeie uma série de movimentos faciais involuntários. Tique nervoso já é um pouco demais.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Por acaso?




Sempre fui adepta do acaso. Minha tese de doutorado em física foi totalmente dedicada a ele. Essa figura brinca com isso, Deus escolhe aleatoriamente um ponto no que chamamos de espaço de fase e voilà! Eis a vida. Tenho cá com meus botões que ele deve ter espirrado com a poeira cósmica e, por um desvio milimétrico, seu dedo foi parar num ponto que não era o escolhido. Mas enfim, estava feito. E eu fui parar na física pra tentar entender pelo menos parte dessa dedada. No filme Magnólia tem aquela frase This is something that happens. Simples assim, como tatuar uma magnólia nas costas como um brinde à aleatoriedade das coisas. Trabalhei anos com física e depois fui pra biologia trabalhar com evolução e suas mutações que ocorrem ao acaso. E, deterministicamente, larguei tudo para virar escritora e dar um tempo da vida real. Sempre fui uma exímia mentirosa numas de tentar sobreviver, não tinha outra saída. Escrevi um livro sobre um mitômano. Hoje o acaso já não me é tão convincente, perdeu um pouco da força embora ainda se manifeste, pelo menos sob meu ponto de vista que é meu grande carcereiro. Continuo sem entender porra nenhuma sobre o sentido da vida, se é que há algum. Não sei para onde estou apontando e, como Deus, tenho rinite.