domingo, 31 de março de 2013

tenho o nome de outro cara
tatuado no cóccix
caso você queira saber
antes de tirar a minha roupa
que as coisas pra mim
mesmo as que não se apagam
não duram muito tempo

sexta-feira, 29 de março de 2013

ela se chamava deborah
por causa da música do vangelis
e quando ela enchia a cara de vodka
e lambia
os dedos dos meus pés
eu a chamava de anjo
meu anjo
- eu dizia –
e tirava o elástico
dos seus cabelos
e o prendia em meu pulso
até que o tempo
e as veias
feito giletes sem fio
vibrassem
até parar

quinta-feira, 28 de março de 2013

o maldito azulejista
alinhou os detalhes
das paredes do banheiro
feito a espinha dorsal
do corcunda de notre dame
meu pato de borracha
que se chamava marcelo
mastroianni
morreu de vertigem
afogado
na trilha sonora
música de cantina
só eu lá
de carpideira
no funeral de seu sonho
fontana di trevi

terça-feira, 26 de março de 2013

em teus lábios
quando você diz
coisas cheias de vogais
como iowa
- é no que ando pensando -

segunda-feira, 25 de março de 2013

domingos são tão emocionantes
quanto perder chinelos
ou esperar a tinta da parede secar
parecem jogos de críquete
domingos espalham migalhas de pão
para que a gente encontre o atalho
pras saias floridas de nossas mães
e logo depois enchem o céu
de corvos macrobióticos
domingos não têm respaldo sociológico
do pew research center
e cultivam cleptomaníacos do tempo
domingos são nomes de velhos vizinhos
que agora têm medo do elevador
domingos destroem guarda-chuvas automáticos
em tempestades de molho ao sugo
domingos dizem aguardem
a próxima música dos titãs
no top ten
da rádio metropolitana
me recuso a falar das segundas-feiras

sexta-feira, 22 de março de 2013

não me interessam
hobbits
hobbies
harold hobbs
nem double cheeseburgers
que tu compra no bob´s
tudo tão irrelevante
quanto espiga de milho
sabe o nome?
corn cob
tenta de novo
um advertising
coloca mais blow
nesse teu job
ou fica parado
quem sabe assim
tu ganha fama
num flash mob

quinta-feira, 21 de março de 2013

você
fichas
pôquer
a garota de americana tirando a roupa
bêbada de
rímel
marcas
amostras
de bolhas nos calcanhares
antes o
barulho da campainha
tua mão straight flush
a outra na maçaneta
ela ri
ela diz
sou de americana
ela diz
yes we can
ela sente vontade
de chamar os outros caras
hey, guys!
e pede um martini
e mais um
e outro
se não fosse pedir demais
- não era -
serviços de escort
sempre batem
na porta errada


quarta-feira, 20 de março de 2013

faz tempo
que john steinbeck
não me faz chorar
no quesito desgraça
humana
o velho john
- que eu ando desprezando –
que em 1947
já sabia
que o destino,
baby
o destino
viaja de ônibus
e quando você chega
agora às seis
ou seis e meia
começam os primeiros barulhos
dos chuveiros dos vizinhos
ouve

os casacos esquecidos no armário
no último inverno
de folhas tristes
e lágrimas geladas
feito nitrogênio líquido
que conservava os corações
solitários e imunes
e a vista embaçava
e as juntas dos velhos doíam
ficavam apenas as penas
das aves migratórias
os casacos esquecidos no armário
tão cheirando a mofo, porra!

domingo, 17 de março de 2013

um pequeno príncipe
eternamente responsável
por um chevrolet captiva

coelho de panela da glenn
para amantes que vivem
so close

uma generosa dose
de blade mary
para wesley snipes

uma almofada
com a etiqueta
super macia bourne

eu queria saber de você
mas meu e-mail do ig
só abre um pop-

up

quarta-feira, 13 de março de 2013

schedule

mais ou menos 200 ml de café
recall da última besteira feita
ah, sim, a dieta
a maldita dieta
comprar argo no camelô por 2,50
pra deixar de implicar com o ben affleck
ligar no sac do arroz prato fino
que tava cheio de gorgulho
colocar google no google
- feito, não tem graça –
trocar a água da rosa
que a loja de sapatos ofereceu
no dia 8 de março
controlar o pânico de mariposas
que vêm do jardim do prédio
da tokyo marine
colocar na mesinha branca
ao lado da rosa
a belíssima edição de stendhal
então torcer para que ele seja flamenguista
e eu não precise dizer mais nada


segunda-feira, 11 de março de 2013

aí o cara desapareceu
aí tu ficou puta
aí tu esperou mais uma pá de dias
aí tu ficou mais puta ainda
aí o cara liga
aí o filho da puta do cara liga pra te desejar um feliz dia internacional da mulher
aí tu vai até o armário da cozinha
aí tu pega aquela faca de açougueiro
aí tu manda afiar a faca de açougueiro
aí tu sente que o afiador tá com medo de você
aí tu paga pra aliviar e diz que ficou bom
aí o afiador sai fora rapidinho
aí tu quer rir mas tu tá puta
aí tu vai fazer tocaia na porta do cara
aí o cara sai
aí tu chega perto com a faca de açougueiro
aí tu não fala nada
aí tu fica vendo o reflexo da faca na cara dele
aí ele tenta falar alguma coisa
aí tu não ouve
aí ele grita
aí ele não fala mais nada
aí tu volta pra casa
aí tu deita na cama
aí tu tá em paz
aí vem nego falar de tpm
aí tu pensa que pode ser
mas tu nem liga


domingo, 10 de março de 2013

o problema,
cowboy
é que timing
nunca foi
nosso forte
apache

yard sale
do que não cabe mais
em espaços além
dos tridimensionais

loser
poser
bulldozer
deixa disso
fica closer
dança comigo
earth
wind
& gunfire
pra gente gritar
já era
banzai

sexta-feira, 8 de março de 2013

cara, eu sou muito cagada. se liga no naipe das coisas que andam rolando comigo. vou começar por um sonho. aquilo de sempre, lugar estranho que parece familiar e tals, uma mala perdida e um avião que eu tenho que pegar prum outro lugar que também seria estranho. não posso te falar com certeza porque eu nunca chego. mas enfim, nesse último ia rolar um ménage a trois. chame de threesome se quiser ou mesmo sacanagenzinha. a mina era bonita, camisa branca, um cabelo meio que no ombro, enrolado. não era muito nova não, já tava naquela idade que as pessoas chamam de charmosa. e era charmosa mesmo. aí vem o cara. tá sentado? pois é, eu também tava no sonho. mas o cara era um dos personagens da escolinha do professor raimundo. da primeira edição. e na primeira edição ele já tinha uns 70. imagina agora. sim, porque o sonho ainda teve a pachorra de seguir a cronologia do indivíduo. você tem noção de uma coisa dessas? o puto do morfeu com aquela cara de laurence fishburne sentado num trono e tirando onda da minha cara? porra, meu, eu sou mó ligada em filmes de ação e tudo, por que não me mandaram o jason statham ou o bruce willis? escolinha do raimundo, cara? queriam o quê? que eu ainda gritasse iça no final da coisa? olha, eu não tenho condição de contar mais nada. você tire as conclusões que quiser. quarta-feira que vem eu volto. o golias pelo menos me faria dar risada. não, não o do davi. ou você acha que em sonho meu teria homem pra lá de dois metros? se liga, né? vê se começa a prestar atenção no que eu falo. até quarta.



a gente envelhece
dormindo às dez
acordando às seis
ameaçando pernilongos em voz alta
antes de errar o tapa
a gente envelhece
medindo a circunferência do braço
evitando usar regatas
se cadastrando em sites de receitas
e consultando horóscopos
a gente envelhece
dormindo de meias
falando pra manicure
no pé só um rosinha básico
a gente envelhece
cantarolando a música
de ao mestre com carinho
descobrindo na wikipedia
que o sidney poitier ainda tá vivo
a gente envelhece
recusando convites
lembrando que piquenique
era chamado de convescote
nos clássicos que ainda não lemos
a gente envelhece
gerundiando
esperando uma oferta incrível
da garota do telemarketing

terça-feira, 5 de março de 2013

cachorro não sabe que tá ficando cego. cachorro acha que o mundo tá ficando escuro. tá seguindo meu raciocínio? não vai ter revolta, nem mad max. não vai ter nada. e pra sorte deles, nem ensaio chato do saramago. eles vão começar a bater a cabeça nas coisas. mas é só um mundo escuro e cheio de coisas. eu queria que você pensasse sobre isso. isso que você chama de razão, cheia de empáfia nos olhos. leve o tempo que quiser. eu nunca fui de ter pressa.

sábado, 2 de março de 2013

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agora tem esse global aí vestido de pinguim falando que esse tal papel neve alivia o cheiro do cestinho. aqui não tem cestinho não, brother. aqui tem balde. entendeu? b-a-l-d-e. balde. e outra, se mané vem aqui e reclama de cheiro de cestinho eu arrebento. eu faço meter as fuças num monte de esterco. só pra ficar esperto. pra num vim mais com firula pra cima de mim. aqui a coisa fede mesmo. vai ver se a vida lá fora tá cheirando rosa. porra nenhuma. e sou eu que tenho que aliviar? mas não mesmo. pinguim que vá cantar de galo lá pros lados do papai noel. porque deve acreditar no véio. só pode.