domingo, 23 de dezembro de 2012

tópicos nebulosos
garotos de filme iraniano
bíblias segundo a record
invasão da normandia
bolo de fubá da tua tia

vibrador elétrico
colônia para impregnar elevador
bicho de pelúcia
buquê de miosótis
cirurgia reparadora de epiglote

bodes para rituais
cabras marcadas para viver
coelho de panela da glenn close
fuga de galinhas em 3d

a vida é só um blockbuster
que você não vê

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

às vezes não é só o café fraco requentado num refratário barato
nem o pior filme do mundo na tela de 24 polegadas
não é teu vizinho comemorando um gol
nem o porteiro te avisando que tua encomenda chegou
não é aquela pessoa que te machucou de maneira irreversível
ou aquela que te pergunta quantos anos tem teu cachorro
não é o último gole de conhaque naquele dia quente demais
ou o pijama improvisado com qualquer coisa que saia do armário
não é aquela promessa quebrada pelo teu arquétipo fraco
nem a centésima tentativa de começar uma dieta
não é aquele talk show que destila gramáticas fora de uso
ou o manual de boas maneiras da tua avó
não é o último dvd daquele box do teu seriado predileto
nem a explosão do bueiro que não acertou tua cabeça
não é aquela muvuca ao redor do atropelado
ou a solidão de um idoso no globo repórter
às vezes é você saber
ao fim de uma caixa de lenços descartáveis
decorada com bexigas e confetes
que não é nada

e se você fosse
comigo pro nebraska
seguir a cientologia
de l. ron hubbard
que diz que nos desperta
uma consciência imortal
que diz que nos dá poderes
de deuses gregos
e se você fosse
comigo pra utah
seguir as visões
de joseph smith
tentar a poligamia
evitar o meu ciúme
e o consumo de cafeína
e se você fosse
comigo pra nova york
gritar oh lord
numa igreja do harlem
repetir my lord
numa igreja do bronx
fingir que não somos
turistas
você tem passaporte visto dólar?
oh, shit!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012


a gente pensa que se escrever um puta verso ele vai se abalar
mas ele tá com outra
a gente pensa que se apelar pra foto daquela coelhinha da playboy 86 ele vai ceder
mas ele tá com outra
a gente pensa que com uma citação de alguém do século V ele vai ficar nostálgico
mas ele tá com outra
a gente pensa que se tiver uma fratura exposta e uma pá de pinos na perna ele vai se comover
(eles costumam ser fãs de robocop)
mas ele tá com outra
a gente esgota as possibilidades as ideias as unhas os comprimidos
e ele
ele continua com outra
- amor é uma coisa besta -


não pensaríamos duas vezes caso alguma coisa saísse muito errada. e fomos até bastante corretos. sem par ou ímpar. sem melhor de três. sem bilhetes de despedida. sem versos que talvez dissessem:
 "de todos esses anos
tirando nossos enganos
até que fomos felizes"
e eu continuo ouvindo rush e me lembrando daquele dia que chamei de sagrado só porque te conheci.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

o mundo vai acabar
e eu ainda não fiz
uma piada sobre o niemeyer
eu tô
veja só
assistindo um programa espírita
alguma coisa sobre carmas
mas pensando em armas
glocks, pra ser mais exata
e em mosquitos
de 9 milímetros
um vizinho arrisca deep purple
em cordas
e eu não sei se é guitarra
ou vem de baixo
eu que parei de acreditar
em caminhões de mudança
e vidas passadas
a limpo
eu que mais uma vez
veja só, mais uma vez
deixei a porta aberta
pro caso de você voltar

domingo, 9 de dezembro de 2012

você devia acreditar em mim agora
eu vou cuidar de cachorros
em qualquer terreno de desova
de corpos esquecidos

sábado, 8 de dezembro de 2012

uma prece prum garoto
sozinho num canto
crescendo de um tanto
que dá até medo
uma flor prum menino
que tira de pétalas
bem quereres
testando poderes
de anti-heróis
uma ode prum homem
que embala o garoto
que carrega o menino
que se arrisca em labirintos
sem novelo de lã

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

a primeira vez que te vi
não teve a teresa
de manuel bandeira
eram minhas as pernas estúpidas
eu andava em l
feito cavalo de xadrez
eu tava com o dedão do pé inflamado
por conta de um alicate não esterilizado
eu tava descalça
por conta do dedão inflamdo
e do alicate não esterilizado
eu pensava num roteiro
prum filme de ação iraniano
eu carregava o cartão de um marceneiro
para que ele derrubasse as certezas
que eu ninava na parte de cima do beliche
eu quis te fazer uma carícia pela metade
e te receitar suplementos vitamínicos
aqueles cheios de abecedário
pra que entre nossas palavras
cruzadas
os espaços fossem grandes demais
para as três letras
de fim

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

quando eu acordo assim
meio hercule poirot
eu procuro na tua assinatura
os três pontos da ordem maçônica
eu penso em desmantelar famílias
claustrofobicamente confinadas
em sessenta metros quadrados
de convivência forçada
eu penso em usar polígrafo
ou estratégias de interrogatório
que merril flood e melvin drescher formularam
em algum momento dos anos 50
mas não esquenta
eu sou só uma velha garota
que procura o zíper
nas fantasias dos inimigos
do spectreman

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

e se eu te dissesse
que ando mudando os ganchos de lugar
só pra te acusar
de pendurar toalhas no lugar errado?
mesmo assim você ficaria?
e se eu te roubasse
dezessete minutos de vida
te oferecendo um trago
de um cigarro adulterado?
mesmo assim você ficaria?
e se eu ainda me superasse
em técnicas de tai-chi-chuan
para desprezar suas ideias
e te dizer fica zen?
mesmo assim você ficaria?
e se eu não movesse uma palha
pra livrar tua cara
pra te isentar da taxa
do barco de caronte?
mesmo assim você ficaria?
o formulário está preso na geladeira
preencha se quiser
volto às seis


sexta-feira, 30 de novembro de 2012

de esquinas engarrafadas de guarda-chuvas
de porteiros noturnos sozinhos em guaritas
de famílias de policiais abatidos
de trincheiras incorporadas a mapas
de sofás lotados de manifestantes
de máquinas de pinball ao som do the who
de bilhetes só de ida
de divãs lotados de arquétipos
de roupas pingando no varal
de cem flexões em espreguiçadeiras
de chaves rodando em falso
de sessões da tarde sem ferris bueller
de índices bovespa de dores crônicas
de garotos café-com-leite em jogos de queimada
de novas grafias para palavras em desuso
de radares avariados por pedras
de best sellers sem peter sellers
de bruce willis desistindo
de uma vez por todas
de salvar o mundo


terça-feira, 27 de novembro de 2012

e quando você decidiu
torrar minhas palavras
em raquetes elétricas
de matar mosquito
rever as fitas de segurança
que captaram meu pior ângulo
colocar de ponta cabeça
minha embalagem que dizia
este lado para cima
sentar-se sobre meu pé direito
até que ele simulasse
saúvas no cio
e quando você revelou
que o verdadeiro nome do john wayne
era marion robert morrison
fazendo pouco de minhas fantasias
mantendo minhas gafes
em nitrogênio líquido
alterando o sentido
de placas de contra-mão
e quando você disse não
nada faz voltar o tempo
nem o lado b
de clark kent

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

eu queria fechar os olhos
pensar em anthony perkins
e esqueletos na janela
pra de certa forma rir
de suas ausências de tranças
e inabilidades
para contos de fadas

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

e quando sobrevivemos
ao nosso particular furacão sandy
e rimos de al gore
tentando salvar o meio ambiente
e mais uma vez nos enfurnamos
em sessões de filmes de guerra
em decisões jamais tomadas
no primeiro telefonema
e lutamos pelo último canto
do travesseiro anatômico
e declamamos parágrafos inteiros
de livros amarelados
e quando voltamos a rir
daquela piada sem graça
sobre o buster keaton
e conjugar verbos
como procrastinar
pensando em beliscar
traseiros de ciclistas
com alicates de 1,99
e quando jamais falamos
de futebol
ou de bolas de golfe
que distraem garotas tailandesas
e quando tivemos a certeza
de que tarde não combina com demais
roberto carlos não é o cara
você é

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

eu queria me chamar
qualquer nome o´sullivan
porque eu andei tão fora de fuso
tão sem saber por que
e porquês
e eu usei palavras duras
e repeti as palavras duras
e remoí histórias demais
e sonhei com o sylvester stallone
e eu de minissaia
com um band-aid no joelho
eu vou te mandar um postal
com algumas palavras
sobre os lugares que estive
e você não
e vou assinar assim
com amor,
sully

terça-feira, 13 de novembro de 2012

o cara tinha mania de ficar friccionando a pele
até saírem aquelas coisinhas marrons
que pareciam girinos prematuros
se divertia um bocado com isso
e com um golpe de estado num país vizinho
dizia que se amarrava em questões de fronteiras
e mudanças abruptas de temperatura
chegava a dar três lances no medalhão persa
só pra gozar mais rápido
- que fique claro que ele usava a função viva-voz do telefone -
e terminar aquela partida de paciência spider
gostava particularmente de colocar
a rainha de copas sobre o rei de paus
e gritar
fuck the royalty
e se metia no meio de uma marcha por qualquer causa
só por causa dos peitos órfãos de sutiãs queimados
o puto do gato rasgara toda sua coleção da hustler



sexta-feira, 9 de novembro de 2012


da gente escutar blondie sem vontade de dançar
estudando antomia de guarda-chuvas
e dublando desenhos animados da acme
de nossas solidões às três da tarde
conversando com fantoches de meia
e calçando tijolos
da última programação da tv aberta
antes do chuvisco
e do poltergeist
de círculos traçados com velhos compassos
nas curvas francesas de garotas russas
que rebolam ao som de flautas peruanas
de barreiras construídas com soldados de chumbo
esquecidos na antiga caixa
de tênis bamba
de amores que miram nucas expostas
na carteira da frente
ou três adiante
por uma vida menos ordinária
por uma vida
ao menos

quarta-feira, 7 de novembro de 2012


garota,
isso em volta
isso tudo
é só um bando de gente com trombose
apostando seus últimos tostões
é o mundo que te entregaram
quando tiraram tuas fraldas
e aplaudiram teus primeiros passos
é aquele ridículo infinito
que você tatuou na nuca
antes de deixar
o cabelo crescer



terça-feira, 6 de novembro de 2012

eu ando egoísta
no paquistão pais jogaram ácido na filha
que olhou prum motoqueiro
duas vezes
dizem que era o destino dela
e eu só fico pensando
se no meu destino
você fica
mais uma vez

sábado, 27 de outubro de 2012


tem a parte mais bonita de todas
a mais incrível cesta de charles barkley
o final bombástico de um filme com jason statham
e anúncios de garotas em paredes internas de orelhões
tem minha brincadeira secreta de procurar teu nome
na seção de escapamentos das páginas amarelas
tem eu tentando entender
alguma coisa sobre você
na velha pista do autorama
de dores que se mantêm em órbita
ignorando a tangente da curva fechada


terça-feira, 23 de outubro de 2012


eu sonho com freddy krueger falando welcome to prime time, bitch
um parente escroto vestido de papai noel me diz
você foi uma garota má
isso foi há muito tempo
não importa
eu ainda ouvia roxy music
e arrancava rabos de lagartixas
hoje o capacho da porta
não esconde chaves
mas pequenas dores sujas
sometimes we cry, van morrison

segunda-feira, 22 de outubro de 2012


cara, eu não sou a pessoa mais clara do mundo, a não ser pela falta crônico-genética de melanina, mas nem a tipologia política do pew research center teria capacidade de dar um respaldo sociológico pra tua última carta. tá, eu realmente me amarro em cartas, eu tenho essa nostalgia clichê de papeis e tintas e adquiri, inclusive, uma peculiar cleptomania direcionada a canetas bic (coisa de morder as tampas). mas vamos lá, vamos por partes. eu até dispenso a piada de jack o estripador que eu sempre evoco quando digo “por partes”. primeira parte. data de hoje. ok. segunda parte.  eu, destinatária. cara, por favor, não use mais esse apelido, me confere um ar de libertinagem que eu não tenho. eu sou bem careta, aquilo que eu fiz foi só um exercício de pilates. ponto. primeiro parágrafo. olha, eu quase coloquei meia dúzia de coisas na mala e corri pra te encontrar. não, nada a ver com aquela babaquice do vamos fugir pra outro lugar baby. as coisas na mala seriam sua escova de dentes elétrica, o carregador do teu antigo celular, um cartão de visita daquele teu tio advogado  e o botão da tua camisa listrada. ah, e teu maço de marlboro. eu parei de fumar e sobraram uns sete no maço. ponto. segundo parágrafo. então, sabe as coisas na mala? eu te faria engolir uma a uma de ponta cabeça. você, não as coisas. essa é a forma mais próxima do castigo de prometheus que eu encontrei. não que eu me atribua poderes divinos. por zeus, não é isso. eu tô mais praquele boneco sinistro de jogos mortais, então do you want to play a game? eu sei que você vai arregar, que você vai procurar o lugar mais parecido com a saia da tua mãe pra se esconder. e mesmo lá, entre florzinhas ridiculamente dispostas, você vai ter a certeza que eu estarei do lado de fora te esperando. sem mais, subscrevo-me.


domingo, 21 de outubro de 2012



pequenas coisas que você precisa saber sobre mim. eu sou desajeitada, eu derrubo coisas, eu sempre enfio o pincel do rímel no meio da retina. eu fico com os olhos iguais aos dos extraterrestres de x files. eu não combino com nenhum vestido de festa, o que não é tão grave assim, eu não vou a casamentos nem a bar-mitvah´s. eu alterno seis pares de all star que até caem bem com as únicas três calças jeans que eu uso (mentira, são as únicas que ainda servem). dizem que a gente sai bem na foto quando nossas proporções seguem a lei áurea. eu violo essa lei a ponto de ser procurada pela polícia federal. eu jamais vou te mandar fotos minhas. eu ando estranhando essas gordurinhas em lugares que eu nem dava bola, tipo ao redor do sovaco. eu digo que entendo, que compreendo, que jamais vou tocar naquele assunto de novo. não acredite nisso. eu vou falar frequentemente desses meus pequenos infernos. muitas vezes eu vou transformar sua vida num inferno. a minha insegurança não diminui com cremes que se chamam renew, ultra young, anti age. sim, eu gasto fortunas com eles pra usar uma ou duas vezes ao ano. no meu armário do banheiro há montes deles em tons amarelados e consistência de massinha de modelar. minha postura é péssima, eu me sento de qualquer jeito e balanço insistentemente a perna esquerda. se não me engano, minha mais sexy lingerie tem o desenho de um smile na bunda. acho que é praticamente isso.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012


assim que você partir
eu sei que vou sentir falta
do velho frasco de novalgina
daquele discurso que você enrolava feito pergaminho
e guardava numa latinha de minâncora
baby, eu vou sentir falta da tua hipocondria
do teu desejo secreto de encaixotar helenas
e do terceiro cravo no seu omoplata
vai ser estranho eu queimar seu manual de jiu-jitsu
antes de entender o armlock voador
e escutar 500 vezes
a música tema de summer of 42
baby, um dia eu vou crescer
e te dizer
seja feliz

quarta-feira, 17 de outubro de 2012


você sacaneia minha lista de mesóclises
eu nem ligo
(pra quê diabos serve uma lista de mesóclises?)
eu também tenho um caderno com recortes de jornais sangrentos
tô querendo chegar num alto nível de impressionabilidade portátil
tipo john kennedy num conversível
isso de manter os miolos na cabeça
definitivamente não combina comigo
(quem foi mesmo que escreveu sobre o formidável enterro da última quimera?)

segunda-feira, 15 de outubro de 2012


teu velho moleton encardido de tabaco
e um último suspiro da tua jugular
antes de você
eu desmontava matrioskas
e as triturava
na velocidade 5
do liquidificador
eu nunca me importei com a rússia
ou com as sombrias parábolas sobre as tentações carnais
de tolstói
antes de você
-desculpa a rima-
dói

quarta-feira, 3 de outubro de 2012



ela tinha uma coleção
daqueles tubinhos de bala pez
e jurava
que eles conversavam à noite
mas não todas as noites
só naquelas em que as coisas
pareciam realmente difíceis
no fundo
eu nunca me importei
com sua falta de lucidez
nem com sua falta
até hoje

terça-feira, 2 de outubro de 2012

deixa um palmo de distância
para que eu me convença
desse teu leve estrabismo
quando você chega perto assim
tudo fica perfeito demais

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

esse teu gosto por contravenção
teu talão de zona azul escondido
entre dobras de bebês recém-nascidos
tua impressão digital no copo de isopor
que apita ardido quando mastigado
teus retalhos disfarçados
num tom flicts do ziraldo
tua costura remendada
com fios de pescar tainhas
que antes enfeitavam a banheira
dum velho militar aposentado
tua mais bonita caricatura
me disse um dia
eu te amo
eu não acreditei

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

por cinco minutos de surdez
por um dia sem ninguém escurraçar um cachorro de rua
pelo último negativo de uma foto do tom selleck com a camisa do magnum
por cadarços mais compridos porque o índice de suicídio infantil é baixo
por mais boatos sobre o fim do mundo transmitidos pelo rádio
por mais h.g. wells
e pânicos movidos a pilhas
por mais cinco minutos de surdez

domingo, 23 de setembro de 2012

aquela garota
você chegou a dar um apelido para ela
(ou não foi assim?)
ou foi você tentando lembrar
dela falando
perdeu, playboy
e você só pensando
na ratazana morta
ainda parindo filhotes
você repetindo
- can you hear me, major tom?-
você achando
que bowie nunca soube
parear lentes de contato

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

tudo meio nick nolte
doendo assim
quando o maldito
skipped light fandango
deixou de ser
salgadinho de isopor
e encheu a tela branca
de cores daltônicas
quando todo homem sonha
com um arquétipo da rosanna
então não fode, jung
deixa os caras com os sonhos
talvez eles nem queiram
muito mais que isso

domingo, 26 de agosto de 2012

ele faz o sinal da cruz antes de comer
eu acho bonito isso
de deus vir assim
em cores tristes
de seleta de legumes

segunda-feira, 13 de agosto de 2012


saca aquela cena de true lies, a metralhadora descendo a escada e matando uma pá de terroristas? eu me amarrava no ex-governador da califórnia. de verdade. eu queria ele cantando love me tender no videokê que eu ganhei numa rifa. o bicho tem até torcida simulada, umas palmas, essas coisas que empolgam a gente. não é nada disso. não teve rifa nenhuma e schwarzenegger é a pior coisa que poderia acontecer com o elvis. eu comprei essa porcaria de videokê porque de todas as merdas que eu tava pra fazer essa era a mais inofensiva. acho que eu tô sentindo falta de você cantando baixinho ou criando histórias pras pessoas que você escolhia ao acaso na lista telefônica. tinha uma em particular. linda. começava num vagão de metrô em paris e ela lia a última fábula dos irmãos grimm. eu queria que você voltasse. pra me contar o final. pra inventar um outro final. ou pra me ajudar a lembrar em que filme o joe pesci manda uma xícara de café pelando goela abaixo. a cafeteira, essa sim, eu ganhei numa rifa de natal. 

domingo, 12 de agosto de 2012

a gente pensa na melhor maneira de dizer algo, até separa umas palavras no aurélio, finge que entende o que são acepções, etimologias, parônimos. derivação por sentido figurado, olha isso! a gente olha pro relógio e se dá um prazo, uns vinte minutos, pra desenrolar a coisa de vez. e se permite um terceiro tempo, uma disputa por pênaltis, simula um w.o. olhando pro teto. faz uma bolinha de papel com o saco de pão e tenta acertar a cúpula do abajur. e erra. e faz chover migalhas no tapete bolando uma armadilha pra baratas. e a chama de kafta pelo prazer de um trocadilho infame ou total incompetência no dialeto tcheco. ou porque a gente sente que certas associações já estão batidas demais. como aquele algo que a gente tem que dizer. e engole até o dia seguinte. até que o suco gástrico o transforme em nada.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012


howlin’ wolf anda falando comigo e - thanks devil - não há cura para a esquizofrenia. não, brother, isso passa longe da mente brilhante do russel crowe. isso é você descobrir que passou a vida toda com uma sutura no ciático pra uma garota chegar e arrancá-la com os dentes. assim mesmo. morfina free.

terça-feira, 7 de agosto de 2012


eu fico pensando no cara que acorda de manhã e tem a ideia estapafúrdia de fazer um filme sobre quatro manés que vão surfar no senegal. aí eu penso no produtor executivo que topou bancar  a ideia estapafúrdia de um filme sobre quatro manés que vão surfar no senegal. tá, tem trocentas outras coisas que eu poderia incluir numa top list de temas para abalar corações. mas faz tempo que perdi a mão. faz tempo que john steinbeck não me faz chorar no quesito desgraça humana. eu passo praticamente o dia todo com o tapa-olho que ganhei num voo da tam junto com amendoins. umas porras duns amendoins que apitavam na boca feito queijo coalho e faziam o velho ao meu lado meter um sorriso sacana na cara. é, o velho john que eu ando desprezando já tinha cantado a bola em 1947. o destino viaja de ônibus, baby. o baby foi por minha conta mesmo. pra você lembrar daquele filme com a brooke shields. porque eu não vou me perdoar se você, agora, perder seu sono por conta de um sonho estapafúrdio com quatro manés que vão surfar no senegal. não vou mesmo, pretty.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012


olha, não tá tão difícil assim. ainda tem o velho pick up da gradiente e o travis tá bem. uma vez por dia eu coloco o espelho pra ele ficar lá, lutando com ele mesmo. depois ele se entope de flocos de alga numas de comemorar a vitória. o travis é um peixe bacana, a gente não precisa esperar muito dele.  e quando eu me aproximo eu sempre digo: netuno está presente. eu falo bem pausado, com impostação de voz e tudo. sei lá, acho importante ele acreditar nisso. mas como eu tava falando, tá tudo bem. quer dizer, aquela garota anda ligando. ela estragou um bocado as coisas entre a gente, né? mas eu tento pensar em coisas mais destruidoras, como o que aconteceu com o marvin gaye. é foda o when we get that feeling. eu chamo de doer pra cacete mesmo. eu não sou tão boa quanto o travis nisso de esquecer.  ah, eu quebrei uma xícara. no mais, tá tudo no lugar. só de vez em quando eu inverto as almofadas do sofá e assisto televisão de ponta cabeça. só pra rir um pouco da cara do burt lancaster. fica realmente engraçada.

sábado, 4 de agosto de 2012


a gente ouvia the kinks, não era?  tava bem quente no horário de brasília, e não tinha fuso nenhum, a gente não parava de suar. e você tentando abrir aquela latinha de creme nivea, e sua mão girando em falso e aquela sua risada de quem tá falhando mas que se dane. tinha um esqueleto de lagartixa lá dentro, e você afirmando com toda empolgação que, ao contrário do que diziam, taxidermia era a profissão mais antiga do mundo. você a chamou de lola -a gente ouvia the kinks, não era?- e criou um passado de gladiadora pra ela. com arena e tudo. sempre me encantou essa sua capacidade de transformar tudo numa avant-première. trocando sem pestanejar os óculos 3d pelo brilho nos olhos do menininho que encontrou o bilhete premiado de willy wonka - olha, eu também não gostei da versão do tim burton. hoje, my last boyscout, eu fico imaginando que você tá só escondido numa casa na árvore. num lugar bem perto, na esquina de baixo, num canto da sessão da tarde.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

das coisas mais bonitas que eu ouvia sobre você
de você escutar dalto trancado na despensa
treinando a assinatura de philip morris
em papel carbono
e empilhar livros de somerset maughan
porque achava o nome pomposo pacas
de bater punheta
pra jurema da lata de ervilhas
que tua mãe colocava na sopa
quando o jantar era servido
pontualmente às dezoito
de mancar por conta do velho rider
remendado com tachinhas
se dizer faquir de um país qualquer
se dizer capaz de um novo truque
com cartas de tarô
até que elas lhe disseram
que não teria muito tempo
foi quando você pegou aquela navalha
de barbear o seu avô
e estilhaçou a palma da mão esquerda
a que dizem guardar
-eu não sei se vale para canhotos-
intersecções de tudo
que ainda não aconteceu


quarta-feira, 1 de agosto de 2012


1933 foi um ano ruim pro john fante. eu nem tinha nascido, baby, e a coisa já andava feia. e eu te digo, na responsa, não tem como aliviar. nossas úlceras já estão curtidas no domecq, algum traficante de órgãos talvez se interesse em expô-las num pie sucio no méxico e com um pouco de suerte a gente até encha de água os olhos do velho mariachi aposentado. e ele comece a jogar dardos na foto daquele cara que cometeu o disparate de compor algo do naipe de jackie tequila. eu sempre quis chamar alguém de escroque antes de me mandar daqui. acho que deus não vai se importar por isso ser de fato a única coisa que eu queira fazer. minto. antes disso eu vou arrumar um cachorro e ficar vendo ele pular umas ondas. apóia a cabeça no meu colo nessa hora, baby. deus não vai se importar com isso também.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

eles se reunem
em hotéis
convenções para vender
raladores elétricos de queijo
estratégias para convencer
potenciais compradores
de raladores elétricos de queijo
e ganham uniforme
um crachá
com uma foto
daquele sorriso besta
para que saibam se distinguir
uns dos outros

domingo, 29 de julho de 2012

tem um troço que dá
que deve ser instinto
ou o último lance de um jogo de rugby
quando a gente já tá chutando
a própria cara

ela
pó de arroz
ele
óleo de peroba
ela
dia de visita
ele
soco no vizinho
ela
cupom de desconto
ele
ingresso pro filme de ontem
ela
que chegou
minutos antes
do massacre

sexta-feira, 27 de julho de 2012



você tem isso de viver entre mudanças
de números do relógio digital
escolhe o toque canto do galo pra acordar
pra que tudo seja assim mesmo
ridículo
como as pantufas que você mete nos pés
pra dar uma de pato donald
no holiday on ice
tem aquela iluminação via spot
tudo mó style
que o próximo inquilino
vai mandar arrancar
e a constelação de órion
que você montou com o velho kit de starfix
e acabou chamando de nebulosa
só pra impressionar a garota míope
que você esqueceu
semana passada
na sala de estar

hai-ka-brón

ela bebia
um cosmopolitan
toda sexy
in mexico city
matou un hombre
en havana
fugiu na barca
de eternit

quarta-feira, 25 de julho de 2012

a gente finge que não se importa
ter mais de 40
perda óssea
e uso obrigatório de lentes corretivas
ter se apaixonado loucamente por holden caulfield
e desprezado ferris bueller
ouvir 'brigado, tia'
ter jogado tudo pelos ares
e se atrapalhar com tecnologia touch screen
ter perdido aquele cara pruma garota
e aquele outro também
com a bombinha de aerolin no criado-mudo
e uma impaciência com parágrafos que descrevem paisagens
com o preço do restaurador pro-age-active
em passar incólume pela blitz do bafômetro
e doar nossas camisetas já curtas demais
em sentir alívio porque o que aconteceu era apenas bullying
com a solidão do quarto de hotel
e o espelho virado pra parede
a gente finge que não se importa
com um novo dia

terça-feira, 24 de julho de 2012

você se lembrou
de pegar o casaco
na lavanderia
de fazer aquela prece
pro que você não acredita
de colocar fluido
no seu zippo
- eu gosto daquele clic antes da chama -
de colocar o despertador
no modo silencioso
preu te acordar
com uma palavra que inventei
um anagrama de
assim que eu voltar

sexta-feira, 20 de julho de 2012


saudade tem forma de parábola
de fábula
de bola de basquete
que quica no cesto
e acerta nossa testa
como um tiro de burroughs