domingo, 27 de novembro de 2011


sou um fiasco com hai kais. então isso vai ser um borderline de verborragia aguda sujeita a interrupções de qualquer espécie. ou coisas para dizer quando a bateria do seu carro está arriada. não que eu tente efusivamente sair do lugar, mas a anti-máxima da autoajuda reza que é só você não poder pra querer. e justo hoje eu queria pegar o carro, usar uma mão no volante e a outra para afastar o cinto de segurança que dá navalhadas no meu pescoço. esse malabarismo amador todo que eu treino quando bate essa vontade insuportável te ver. porque aquele teu jeito de se sentar no banco do carona e apoiar os pés no parabrisa me dá a sensação de estar contrabandeando um legítimo rodin. e aí, baby, eu saio desafiando todos os radares na tentativa de sermos, os dois - eu deixei claro, interrupções de qualquer espécie - apreendidos por tempo indeterminado.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

rascunho. o bilhete que eu deixei grudado na geladeira ainda não está completo. note que há inclusive uma letra maiúscula. eu não uso letras maiúsculas a não ser quando a coisa é formal ou exige uma revisão urgente. escrever algo para você ainda me dá a sensação de estar escarrando um pedaço em desuso da minha anatomia. mas está lá, grudado naquele ímã do jack nicholson em o iluminado. bem na cena em que ele detona a porta com um machado e o resto é pânico. não perca seu tempo com isso, eu não premedito metáforas. o ímã com o número de emergência da comgás daria exatamente o mesmo efeito. as mesmas queimaduras causadas pelo amor que torra prematuramente sob formais 220 Volts.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011


e sonny boy williamson se sentou com deus num lugar muito parecido com o tennessee e perguntou, mas que diabos foi isso? é assim. alguém pega uma picareta de quebrar gelo e arranca algo da nossa vida e diz, vai, segue aí agora. e eu olho para meus joelhos ralados da nossa última trepada sonhando ter sido sua última garota. veja bem, não é o pódio que me interessa. tampouco as medalhas de honra ao mérito. eu tenho espetadas em meu peito coisas muito mais fortes que essa babaquice toda de horóscopo e ascendentes não explica. e eu sinto uma saudade filha da puta do que a quiromante diagnosticou como linha dúbia no meu futuro. engraçado como nossa história é retórica, eu tô falando de picaretas de novo. tá um dia lindo hoje, você não acha?

sexta-feira, 18 de novembro de 2011


deixemos as cretinices de lado, empilhadas como naipes mentirosos de baralhos de mágicos fajutos. há certa malícia em baixarmos um royal flush sobre a mesa, apostamos um bocado nisso com as mangas de nossas camisas puídas e um parco resto de dignidade. a luz que vaza pela cortina vedada com grampos de cabelo é só o mundo lá fora. "ainda com amor", escrevi no espelho daquele motel fuleiro cheio de lembranças remendadas com durepox. 

quarta-feira, 16 de novembro de 2011


ontem eu deveria ter te falado, antes de desligar o telefone, que pra mim não existia amor sem barry manilow. explico. eu tinha doze anos e uma inabilidade crônica para a vida. aí eu estava num acampamento cheio daquelas coisas que me davam pânico. pessoas. e tinha aquele garoto. e tinha eu e uma quadra de volleyball que eu atravessei assim que ouvi we walked to the sea, just my father and me, and the dogs played around on the sand, com a certeza de ter encontrado o que chamavam de amor. me sentei ali, ao lado dele. mentira. entre nós havia um monte de bolas. eu contei todas. lá pela 17 (eu conto rápido) ele se levantou e foi conversar com outra garota. é. daquelas que fariam fácil o papel de cheerleader na sessão da tarde. ontem, antes de desligar o telefone, eu deveria ter te falado que essa foi minha primeira lembrança do amor. ter te falado que eu entendo cada garota que se encanta com você mas que não aceito a recíproca. eu ando muito egoísta. não deixei nem você saber que assim que desliguei o telefone eu, que me tornei um fiasco em esportes, coloquei mandy pra tocar.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011


eu uso luvas cirúrgicas pra não amarelar os dedos com nicotina enquanto aquele cara comemora o primeiro lugar no vestibular de medicina subindo a brigadeiro luiz antônio numa bmw conversível branca. pouco antes de eu apagar bruce willys tem que resolver um enigma proposto num orelhão da sétima avenida. quando ia a santo ivo encontrei 1 homem com 7 mulheres, cada mulher com 7 sacos, cada saco com 7 gatos, cada gato com 7 gatinhos. homem, mulheres, gatos e gatinhos, quantos iam a santo ivo? é assim mesmo. a gente sai fazendo conta antes de pensar e corre o risco de em 30 segundos tudo ir pelos ares. da mesma maneira ridícula que a gente se ajoelha implorando o amor de alguém que vê a coisa toda como simulação de um exercício de tai chi chuan. na superfície (ou no fundo se você quiser, eu sempre cedo) dor é isso. é algo que se forma nas dobras do nosso corpo quando estamos em posições ridículas. em tempo. só uma pessoa foi a santo ivo.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011


eles pararam na frente da vitrine e tocaram na mão um do outro sem querer. havia uma placa precisa-se de gerente. ele disse, talvez as coisas melhorem. ela não havia alimentado o gato ou os peixes ou fora a planta que ficara sem água. ele sonhou com charles bronson, alienígenas e uma formiga pequena demais que usava um nariz de palhaço. pensaram quase que simultaneamente num lote à venda, ela numa varanda, ele no preço do metro quadrado da grama. depois não pensaram em mais nada. ela entrou na loja, tirou o chapéu do mancebo, colocou na cabeça, pagou. quando ela saiu, ainda que lentamente, ele não a reconheceu. esperou algum tempo mas a chuva ficou forte demais e lá não vendiam galochas.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011


nas manhãs que acordo sem você são dois jatos de aerolin. olha só, eu me empolgo com situações de desespero e fico tateando no escuro até encontrar a bombinha. derrubo um bocado de coisas e as pilhas ejetadas do controle remoto seguem em movimento browniano até a parede. e eu me lembro daquele diálogo de sunset boulevard, quando joe gillis diz a norma desmond, você é norma desmond. você costumava ser grande. ela responde, eu sou grande, as fotos é que são pequenas. aí joe fala, eu sabia que havia algo errado com elas. algum tradutor achou isso tudo divino demais e chamou de crepúsculo dos deuses. e eu ando com muita coisa na cabeça para me lembrar se crepúsculo é o nascer ou o pôr do sol. não, não é isso. a bem da verdade, eu não tenho aberto as cortinas desde que tive a sensação de você estar escondido atrás delas. você sabe, fator surpresa é um tema estudado à exaustão na psicoterapia.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011


em exatos cinco anos você vai me escrever. você vai escolher uma mídia qualquer porque você nunca encontra as bics que rolam pra debaixo da estante. você vai dizer que nós violamos tudo que foi dito sobre magnetismo, de tales de mileto a maxwell. que devíamos ter ficado juntos e completado aquele álbum de figurinhas que dava prêmios. que aquela discussão ridícula na fila do caixa do walmart foi nosso melhor disfarce. acabamos nos assustando, não um com o outro, mas com nós mesmos e nossa incapacidade de perceber o timing correto para dizer eu te amo. hoje, sem você, eu me assusto com os barulhos estranhos da geladeira frost free e me pego ouvindo nelson gonçalves sentada no banquinho de madeira que eu comprei de um cara numa kombi. eu tive sorte. logo depois alguém gritou olha o rapa e ele arrancou com tudo.  

terça-feira, 1 de novembro de 2011


eu te avisei tantas vezes, odeio saramago, e você o embrulhou pra presente. eu coloquei um x em cada opção do pacote, mudou-se, endereço insuficiente, não existe o número indicado, falecido, desconhecido, recusado, ausente, não procurado, outros (especificar). nesse último ítem eu quis escrever que os aedes aegypti machos foram geneticamente modificados e morrem antes de atingir a idade de reprodução. o carteiro não achou isso lá muito plausível e eu argumentei, oras, e que plausibilidade existe em  "O presente que demos ao primo maximiliano, quando do seu casamento, há quatro anos, sempre me pareceu indigno da sua linhagem e merecimentos, e agora que o temos aqui tão perto, em valladolid, como regente de espanha, por assim dizer à mão de semear, gostaria de lhe oferecer algo mais valioso, algo que desse nas vistas, a vós que vos parece, senhora, Uma custódia estaria bem, senhor, tenho observado que, talvez pela virtude conjunta do seu valor material com o seu significado espiritual, uma custódia é sempre bem acolhida pelo obsequiado, A nossa santa igreja não apreciaria tal liberalidade, ainda há de ter presentes em sua infalível memória as confessas simpatias do primo maximiliano pela reforma dos protestantes luteranos, luteranos ou calvinistas, nunca soube ao certo, Vade retro, satanás, nem em tal tinha pensado, exclamou a rainha, benzendo-se, amanhã terei de me confessar à primeira hora, Porquê amanhã em particular, senhora, se é vosso costume confessar-vos todos os dias, perguntou o rei, Pela nefanda ideia que o inimigo me pôs nas cordas da voz, olhai que ainda sinto a garganta queimada como se por ela tivesse roçado o bafo do inferno"?  foi engraçado. ele tentou correr sem derrubar os cartões de natal.