nas manhãs que acordo sem você são dois jatos de aerolin. olha só, eu me empolgo com situações de desespero e fico tateando no escuro até encontrar a bombinha. derrubo um bocado de coisas e as pilhas ejetadas do controle remoto seguem em movimento browniano até a parede. e eu me lembro daquele diálogo de sunset boulevard, quando joe gillis diz a norma desmond, você é norma desmond. você costumava ser grande. ela responde, eu sou grande, as fotos é que são pequenas. aí joe fala, eu sabia que havia algo errado com elas. algum tradutor achou isso tudo divino demais e chamou de crepúsculo dos deuses. e eu ando com muita coisa na cabeça para me lembrar se crepúsculo é o nascer ou o pôr do sol. não, não é isso. a bem da verdade, eu não tenho aberto as cortinas desde que tive a sensação de você estar escondido atrás delas. você sabe, fator surpresa é um tema estudado à exaustão na psicoterapia.
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