sábado, 27 de outubro de 2012


tem a parte mais bonita de todas
a mais incrível cesta de charles barkley
o final bombástico de um filme com jason statham
e anúncios de garotas em paredes internas de orelhões
tem minha brincadeira secreta de procurar teu nome
na seção de escapamentos das páginas amarelas
tem eu tentando entender
alguma coisa sobre você
na velha pista do autorama
de dores que se mantêm em órbita
ignorando a tangente da curva fechada


terça-feira, 23 de outubro de 2012


eu sonho com freddy krueger falando welcome to prime time, bitch
um parente escroto vestido de papai noel me diz
você foi uma garota má
isso foi há muito tempo
não importa
eu ainda ouvia roxy music
e arrancava rabos de lagartixas
hoje o capacho da porta
não esconde chaves
mas pequenas dores sujas
sometimes we cry, van morrison

segunda-feira, 22 de outubro de 2012


cara, eu não sou a pessoa mais clara do mundo, a não ser pela falta crônico-genética de melanina, mas nem a tipologia política do pew research center teria capacidade de dar um respaldo sociológico pra tua última carta. tá, eu realmente me amarro em cartas, eu tenho essa nostalgia clichê de papeis e tintas e adquiri, inclusive, uma peculiar cleptomania direcionada a canetas bic (coisa de morder as tampas). mas vamos lá, vamos por partes. eu até dispenso a piada de jack o estripador que eu sempre evoco quando digo “por partes”. primeira parte. data de hoje. ok. segunda parte.  eu, destinatária. cara, por favor, não use mais esse apelido, me confere um ar de libertinagem que eu não tenho. eu sou bem careta, aquilo que eu fiz foi só um exercício de pilates. ponto. primeiro parágrafo. olha, eu quase coloquei meia dúzia de coisas na mala e corri pra te encontrar. não, nada a ver com aquela babaquice do vamos fugir pra outro lugar baby. as coisas na mala seriam sua escova de dentes elétrica, o carregador do teu antigo celular, um cartão de visita daquele teu tio advogado  e o botão da tua camisa listrada. ah, e teu maço de marlboro. eu parei de fumar e sobraram uns sete no maço. ponto. segundo parágrafo. então, sabe as coisas na mala? eu te faria engolir uma a uma de ponta cabeça. você, não as coisas. essa é a forma mais próxima do castigo de prometheus que eu encontrei. não que eu me atribua poderes divinos. por zeus, não é isso. eu tô mais praquele boneco sinistro de jogos mortais, então do you want to play a game? eu sei que você vai arregar, que você vai procurar o lugar mais parecido com a saia da tua mãe pra se esconder. e mesmo lá, entre florzinhas ridiculamente dispostas, você vai ter a certeza que eu estarei do lado de fora te esperando. sem mais, subscrevo-me.


domingo, 21 de outubro de 2012



pequenas coisas que você precisa saber sobre mim. eu sou desajeitada, eu derrubo coisas, eu sempre enfio o pincel do rímel no meio da retina. eu fico com os olhos iguais aos dos extraterrestres de x files. eu não combino com nenhum vestido de festa, o que não é tão grave assim, eu não vou a casamentos nem a bar-mitvah´s. eu alterno seis pares de all star que até caem bem com as únicas três calças jeans que eu uso (mentira, são as únicas que ainda servem). dizem que a gente sai bem na foto quando nossas proporções seguem a lei áurea. eu violo essa lei a ponto de ser procurada pela polícia federal. eu jamais vou te mandar fotos minhas. eu ando estranhando essas gordurinhas em lugares que eu nem dava bola, tipo ao redor do sovaco. eu digo que entendo, que compreendo, que jamais vou tocar naquele assunto de novo. não acredite nisso. eu vou falar frequentemente desses meus pequenos infernos. muitas vezes eu vou transformar sua vida num inferno. a minha insegurança não diminui com cremes que se chamam renew, ultra young, anti age. sim, eu gasto fortunas com eles pra usar uma ou duas vezes ao ano. no meu armário do banheiro há montes deles em tons amarelados e consistência de massinha de modelar. minha postura é péssima, eu me sento de qualquer jeito e balanço insistentemente a perna esquerda. se não me engano, minha mais sexy lingerie tem o desenho de um smile na bunda. acho que é praticamente isso.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012


assim que você partir
eu sei que vou sentir falta
do velho frasco de novalgina
daquele discurso que você enrolava feito pergaminho
e guardava numa latinha de minâncora
baby, eu vou sentir falta da tua hipocondria
do teu desejo secreto de encaixotar helenas
e do terceiro cravo no seu omoplata
vai ser estranho eu queimar seu manual de jiu-jitsu
antes de entender o armlock voador
e escutar 500 vezes
a música tema de summer of 42
baby, um dia eu vou crescer
e te dizer
seja feliz

quarta-feira, 17 de outubro de 2012


você sacaneia minha lista de mesóclises
eu nem ligo
(pra quê diabos serve uma lista de mesóclises?)
eu também tenho um caderno com recortes de jornais sangrentos
tô querendo chegar num alto nível de impressionabilidade portátil
tipo john kennedy num conversível
isso de manter os miolos na cabeça
definitivamente não combina comigo
(quem foi mesmo que escreveu sobre o formidável enterro da última quimera?)

segunda-feira, 15 de outubro de 2012


teu velho moleton encardido de tabaco
e um último suspiro da tua jugular
antes de você
eu desmontava matrioskas
e as triturava
na velocidade 5
do liquidificador
eu nunca me importei com a rússia
ou com as sombrias parábolas sobre as tentações carnais
de tolstói
antes de você
-desculpa a rima-
dói

quarta-feira, 3 de outubro de 2012



ela tinha uma coleção
daqueles tubinhos de bala pez
e jurava
que eles conversavam à noite
mas não todas as noites
só naquelas em que as coisas
pareciam realmente difíceis
no fundo
eu nunca me importei
com sua falta de lucidez
nem com sua falta
até hoje

terça-feira, 2 de outubro de 2012

deixa um palmo de distância
para que eu me convença
desse teu leve estrabismo
quando você chega perto assim
tudo fica perfeito demais

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

esse teu gosto por contravenção
teu talão de zona azul escondido
entre dobras de bebês recém-nascidos
tua impressão digital no copo de isopor
que apita ardido quando mastigado
teus retalhos disfarçados
num tom flicts do ziraldo
tua costura remendada
com fios de pescar tainhas
que antes enfeitavam a banheira
dum velho militar aposentado
tua mais bonita caricatura
me disse um dia
eu te amo
eu não acreditei