sexta-feira, 24 de maio de 2013
tu me diz
fica na minha
como seu eu fosse
bicho de rinha
tu aposta
antigos cruzados
conjuga presente
em tempo passado
aí tu manda
via sedex
o novo anúncio
da jontex
mas eu mudei
tu nem sabia
aluguei tudo
pra tua tia
agora imagina
a merda que deu
ela correu pro porteiro
dizendo "é tudo teu"
a guarita
ficou às moscas
invadiram tudo
levaram as toscas
poesias
que tu
- eu lamento -
escreveu
segunda-feira, 20 de maio de 2013
um dia, quando eu puder, vou te explicar meu vício em
jogos tolos. sobre os sábados que eu te dizia não. do tique nervoso da moça da
previsão do tempo e de como eu sentia vontade de enfiar uma moeda no vão da
bunda do borracheiro. eu preciso trocar os pneus do meu carro e mandar lavar a
marca da tua pegada no porta-luvas. eu te pedia, senta direito, vão achar que
estou contrabandeando um legítimo rodin. vou confessar que aquele segredo de
estado que te revelei enquanto você estava no chuveiro, eu roubei do wikileaks.
mas meu inglês anda tão ruim, acho que falei do golpe errado. ou de outras
intenções. sabe o que eu li na seleções? num campeonato de memória, uma tal
astrid plessl se lembrou de 71 versos de um poema. já eu, não. eu encho de
ataduras o dedão do meu pé, pois no meio do caminho, há sempre drummond.
terça-feira, 14 de maio de 2013
eu sei que nós não vamos ficar juntos. que não teremos vasinhos de flores na janela nem um móbile
em cima da cama. sei que não vamos sair procurando um hamster atrás da estante
nem o disco perdido do rush. que não teremos apelidos carinhosos pra gritar do
banheiro quando esquecermos a toalha. eu sei que você vai me falar que o humor
dos irmãos coen é judeu demais e que explicar certas piadas só piora as coisas.
você vai dizer que não liga pro cheiro dos meus cinzeiros lotados e pros
canhotos da mega-sena que uso pra calçar a cadeira. vai ter o dia que você vai
perceber, pela posição defensiva do meu cotovelo direito, que eu não gosto de
dormir abraçada. aquele nosso amigo em comum vai te dizer que eu sou esquisita,
e você vai me defender por exatas 48
horas. você vai até imitar o eddie murphy : “You know what I am? I’m your worst fuckin’ nightmare,
man. I’m a nigger with a badge which means I got permission to kick your fuckin’
ass whenever I feel like it!”. nessa hora eu vou dar muita risada, pode
acreditar. mas depois não vai ser assim. eu vou te confessar, entre outras
coisas, que acho o eddie murphy um babaca e que converso com meu cachorro. aí
eu vou abrir aquele meu livro enorme do haruki murakami e ler bem aquela parte
na qual o protagonista se pergunta: “sobre o que mesmo ela falava?”.
segunda-feira, 13 de maio de 2013
só que aí de merda, né? nosso lamentável poder de previsão das coisas resolveu
declarar falência de vez. meu vizinho é atendente do cvv, eu escuto uma pá de
conselhos que ele dá de madrugada. depois que ele transformou o apartamento num
loft o som reverbera que é uma beleza. entre uma ligação e outra o cara ouve
neil young. sempre a mesma música. heart of gold. o neil leva mó tempão pra
escolher a gaita certa. e é engraçado. é bem engraçado. carisma, saca? daquele
que dá a certeza de que tudo vai ficar bem, é só esperar o tempo certo. não sei
se é assim pras pessoas do outro lado da linha do telefone do meu vizinho. acho
que nem ele sabe. tenho a impressão de que é só um trabalho. talvez role um
bônus por suicidas recuperados e ele possa comprar uma lava-louças. ou ele nem
queira uma. o que a gente sabe sobre a vida dos outros, né? eu tava falando da
gente e acabei me dispersando. mas, como eu vi outro dia pichado num muro, “a
gente já fomos”. assim mesmo. conjugando gente como nós.
tem um troço aqui que se eu escrever você vai, finalmente, se apaixonar por mim.
não é nada genial, não, nem algo que você não tenha lido antes. mas você, né? você
com esse seu déficit de atenção feito acordo quebrado com uma puta cansada
chamada rita leena. mas se você parar pra ler - vai te custar três segundos e
uns quebrados - você vai passar a mão nesse telefone e me ligar logo depois. eu
vou fingir surpresa, tipo nem tava esperando por sua chamada. eu costumo
atender no quarto toque, senão cai na gravação. quando eu era criança, eu sempre
quis ter uma secretária eletrônica com aquelas mini fitas cassete. agora eu
tenho, mas é digital e fala espanhol. “no hay nuevas mensajes” é o que ela anda
repetindo no fim do dia. mas tudo bem, pouquíssimas pessoas têm esse número e
telecomunicações já tiveram dias melhores. enfim, quando a gente estiver junto
eu vou poder te contar uma série de outras coisas que você, como um cara
deliberadamente apaixonado, não vai nem se importar com suas mãos enroscadas no
meu cabelo. eu sei que pareço um tanto pretensiosa às vezes, mas já tô mesmo na
idade de dar um chute nas bolas do recalque. olha, o envelope é pardo e eu vou
optar pelo sedex 10 ao invés de comprar um novo maço de cigarros. só não
esqueça, the postman always rings twice. a gente se vê.
na época tu sabia que não ia dar em nada. que provavelmente tu ia ficar com aquela cara de rebento prematuro de carpideira. tu ia apertar até a goela o colarinho engomado da camisa pra dar uns três tragos num minister. tu nem fumava, porra. tu mastigava palito e mentex. tudo devagar. tudo bem devagar. tudo pra ela ter tempo pra vida dela. sei não, cara, mas acho que foi aí que tu vacilou. faz o que agora, sete anos? vê se pelo menos mete uma meia nos pés. geada, quando bate, parece que é dentro de casa.
quarta-feira, 8 de maio de 2013
uma última conversa com H.A.L.
opções?
algumas
razões?
poucas
emoções?
ah, roberto, né?
amores?
vão
em vãos
voltam?
alguns
mas creio que é
um erro
sorte?
osso de galinha
destino?
com o que sobra
a gente faz
coxinha
poesia?
não, rima
poesia?
despertador
poesia?
acordar
tecnologia?
paciência spider
pra windows 7
não dá dica
tempo?
faz frio
e horas
fim?
a gente
sempre pensa
que sim
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