quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Na cabeceira

"Ali estava, se não a história completa, a imagem completa. É muito raro, neste nosso final de século, a vida nos oferecer uma visão pura e tranquila como esta: um homem solitário sentado num balde, pescando através de um buraco aberto numa camada de gelo com meio metro de espessura, numa lagoa cuja água está constantemente se renovando, no alto de uma montanha bucólica na América."

Assim termina "A Marca Humana", de Philip Roth, que gentilmente cede lugar a "Cidades da Planície", de Cormac McCarthy.

"Pararam na entrada e bateram os pés para expulsar a água de chuva das botas e sacudiram os chapéus e secaram o rosto. Na rua a chuva soava com estalo as poças de água fazendo os vermelhos e os verdes berrantes dos letreiros de néon se desgarrarem e fervilharem e a chuva dançava nas capotas de aço dos carros estacionados ao longo do meio-fio da calçada."

É onde estou agora, no que eu chamo de soul western. Este livro encerra a Trilogia da fronteira iniciada com Todos os belos cavalos e A travessia. McCarthy sempre me presenteia com um árido deserto na garganta, mesmo quando tudo está tomado pelo gelo, como no brilhante A estrada, que já virou filme (É Viggo Mortensen!). Que Billy Parham divida os holofotes com Arturo Bandini.

Adiós, vaquero.

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