terça-feira, 31 de agosto de 2010


- Sei que você fez os seus castelos...
- Erasmo?
- Sim?
- Na boa, dá pra você não cantar isso agora?
- Não posso evitar. E sonhou ser salva do dragão...
- Por favor.
- Desilusão, meu bem, quando acordou estava sem ninguém...
- Olha, acordar pra mim já é uma coisa bem difícil.
- Sozinha no silêncio do seu quarto...
- É bem por aí.
- Procura a espada do seu salvador...
- Nem Dali.
- Que no sonho se desespera...
- Ando tendo pesadelos.
- Jamais vai poder livrar você da fera...
- Eu vou aprender a rezar. Prometo.
- Da solidão...
- Eu rezo em hebraico se você quiser!
- Me dê a mão...
- Vai me levar pra onde?
- Filosofia é poesia é o que dizia minha vó...
- Sem ditados, vai.
- Antes mal acompanhada do que só...
- Você não está nem um pouco preocupado com o que eu preciso.
- Você precisa de um homem pra chamar de seu...
- Pretensão sua.
- Mesmo que esse homem...
- Vai desaparecer bem agora? Eu ainda não terminei. Você ainda não terminou. E aquela coisa de secar meu pranto? Volta, vai. Canta aquela que diz que eu sou sua superstar...

O mundo anda um lugarzinho bem estranho. E o além se limita a avisar que as definições de vírus foram atualizadas.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Da série "Por que eu ainda escrevo se alguém o faz melhor e eu posso tungar dos amigos?"

O Divisor - Edwin Morgan

Continuo pensando em você – o que é ridículo.
Estes anos entre nós como um mar.
E a dignidade que veio com o tempo
impediria meu lápis sobre o papel.
O som estava ligado; você pediu pelos Stones;
conseguiu, conseguiu café fresco, conversa.
As cortinas cerradas guardam uma noite selvagem.
Continuo pensando nos seus olhos, suas mãos.
Não há razão para isto, nenhuma.
Você diria que não posso ser o que não sou,
mesmo que não possa estar onde estou.
Onde isso nos leva? O que podemos fazer?
O silêncio após Jagger foi como uma capa
que eu teria jogado sobre você – havia apenas
o vento, e o relógio batia enquanto você bebia,
agarrando a caneca verde entre as mãos.
Não olhe para cima assim de repente!
Como é duro não olhar você.
Chegamos ao ponto de não falar
e não se preocupar, e aquilo
foi quase feliz. Então, mais tarde,
quando você deitou sobre o cotovelo no carpete
não senti nada além de uma punhalada
de dor me dizendo o que era,
e não posso dizer para você, nem uma palavra.

terça-feira, 24 de agosto de 2010



ESCRITÓRIO.INT.DIA

Sol. Calor. O gato estirado na mesa. Branco. Dor de garganta. Dor. Desejo de estar no ano passado. Abolindo pontos de exclamação e abusando de reticências. De gerúndios. Conto os cabelos brancos. Tenho quase quarenta. Anos. Desejo de voltar ao ano passado. O telefone toca e em off alguém pede uma doação. Eu tenho muito pouco, explico o que já perdi. Em off o alguém desliga. Sinal de ocupado e nó na garganta. Penso em Linda Lovelace. Que tudo é biodegradável. Menos o domingo. Desejo de desaparecer no ano passado.

FADE OUT

sábado, 14 de agosto de 2010

Nos livros de McCarthy todo o movimento parece estar relacionado a passos, trotes de cavalos. Os diálogos são sucintos, às vezes impassíveis de uma compreensão imediata. No entanto, algo fica ressonando, ecoando, e quando você se dá conta já está totalmente tomado por um universo sem vírgulas, erguido entre silêncios. Foi sobre isso que falei na minha primeira aula do curso de roteiro. Universos. Já fiz de tudo para tentar compreendê-los. Um dos alunos deliciosamente duvidou que eu tivesse feito física na faculdade. E começamos a criar uma história, partindo de uma ilustração aparentemente estática de HQ. Estavam presentes 18 alunos (que eu já considero roteiristas, pois estava um frio de lascar), com idades de 17 a 60 anos, e de repente já havíamos criado um mundo para um protagonista que teve sua vida esmiuçada e invadida sem dó. E foi muito gratificante ter proporcionado a cada um sentir o gosto do incurável vício na ficção. Tomara que todos voltem, que outros apareçam, que comecem a enxergar o que não está exatamente visível, a ouvir o que cada boca na rua fala. Em duas horas semanais a gente vai fazer um estrago.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

E fico com essa impressão de que nunca fiz mal a alguém.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Oficina de roteiro para cinema

Biblioteca de São Paulo oferece
oficina de roteiro para cinema



Aulas gratuitas estimulam participantes a criarem situações para curta-metragem.
Os textos produzidos terão leitura dramática feita por atores.




A Biblioteca de São Paulo, espaço cultural do Governo de São Paulo administrado em parceria com a Poiesis - Organização Social de Cultura, promove a Oficina de roteiro cinematográfico nas terças-feiras 10, 17, 24 e 31 de agosto, às 19h. Adriana Brunstein é a responsável pelas atividades, que tem como objetivo fazer com que os alunos desenvolvam um roteiro de curta-metragem a partir de histórias próprias.



Dividida em duas partes, a oficina trabalhará primeiro com exercícios que garantam a fluidez de pensamento, estimulando a criatividade sem se apegar a amarras estéticas ou regras pré-estabelecidas. Com a história pronta, os alunos partirão para a segunda etapa, que é a visualização do filme. Desta vez, serão apresentadas as técnicas de roteiro - storyline, sinopse, escaleta e roteiro pronto – para permitir o conhecimento acerca de cortes de cena e opções de filmagem, entre outras atividades ligadas a concepção cinematográfica. Os roteiros escritos ganharão leitura dramática feita por atores. Análises de filmes clássicos e modernos, assim como indicações de leituras e utilização de programas específicos de confecção de roteiros no formato master scenes completam a programação do evento.



Escritora e roteirista, Adriana Brunstein é a dramaturga responsável pela peça Flores de Asfalto, encenada em 2008, durante o festival Satyrianas, e por roteiros de curtas-metragens como Olhos de Fuligem, apresentado no 13º Cultura Inglesa Festival. No mesmo ano, ganhou o prêmio HQMix de melhor roteirista nacional com o álbum Prontuário 666 – Os anos de cárcere de Zé do Caixão. Adriana também colaborou no roteiro de Encarnação do Demônio, filme de José Mojica Marins.



As edições do evento são gratuitas. Vale lembrar que a entrada na BSP é feita mediante apresentação das carteirinhas de visitante ou usuário, que podem ser solicitadas na recepção.



Serviço

Inscrições na recepção da Biblioteca de São Paulo a partir de 31 de julho. Podem ser feitas inclusive no dia 10, antes do início do curso.

Oficina de roteiro cinematográfico
Dias 10, 17, 24 e 31 de agosto, às 19h

Biblioteca de São Paulo
Parque da Juventude
Av. Cruzeiro do Sul, 2630 – Santana – São Paulo (SP)
Tel.: (11) 2089-0800

Site: www.bibliotecadesaopaulo.org.br
Blog: www.bibliotecadesaopaulo.blogspot.com
Twitter: www.twitter.com/spbiblioteca