sexta-feira, 30 de setembro de 2011


é que tem coisa que me derruba e eu não tô falando de um uppercut do cassius clay nem de tropeçar em pés descalços largados no meio da calçada. é como se o placar da minha pressão exibisse o escore 9 X 5 nos trinta e dois segundos finais do campeonato. tem uma cama adaptada aqui para acomodar meu amor deficiente que ainda não aprendeu a ler em braile.

sábado, 24 de setembro de 2011

se enfiasse, então, a cabeça no forno, assim que retirasse a grade do meio, deixaria um bilhete no bolso traseiro. mas as coisas andavam um tanto enferrujadas por lá e movê-las demandaria um pouco mais de paciência (já não tinha). fora que a porta da cozinha era daquele estilo faroeste, uma ideia dela para tornar tudo mais dinâmico (ela, que dormia nos filmes do sergio leone). então ele tirou o enorme frango do congelador, ligou o gás e sentiu uma pontada de prazer quando a primeira gota de gordura se desfez na chapa quente.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

pegou uma fita métrica e mediu o comprimento e a largura da sala. depois sua própria altura. pensou no capitão américa com aquela enorme estrela no peito e numa garota debruçada na janela. escreveu uma nota de óbito numa embalagem de pão e tentou montar um anagrama para carboidratos. alimentou a planta carnívora com restos de um coração transplantado. a orelha de holyfield o impressionava muito mais que a de van gogh e ele soltou uma gargalhada que se confundiu com o frouxo ruído do velho ventilador.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011


engarrafamento monstro, saca? eu louca pra te ver, tudo regularizado, respeitando rodízio de placas e ouvindo CBN. às vezes eu tenho essa vontade de saber o que anda acontecendo no mundo pra discutir com você. ou pelo menos fingir que eu estou por dentro das coisas pra você fazer aquela cara de quem se surpreende comigo. que diferença faz, não é? a gente sempre manda o mundo às favas e escuta muddy waters. mannish boy. traduzi a primeira estrofe assim de sopetão. ficou meio esquisita com meu inglês científico demais. mas eu não fico mais cheia de dedos com nada. nesse exato momento eu tô sentando a mão na buzina para que as coisas se movam e eu te conte em primeira mão sobre o incêndio em singapura. é longe pacas, eu sei. mas quer saber? o mundo cabe direitinho naquele velho globo que você tem na sua sala. abri o vidro, a moça me deu um folheto de apartamento que eu transformei num bi-motor. ele deve chegar aí antes de mim. abra com cuidado, tenho a impressão de ter despachado meu coração junto.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011


é como se alguém jogasse um vaso do décimo segundo andar só pra testar a eficácia do suicídio e acertasse a cabeça de um outro. é disso que eu estou falando. é tudo irônico demais para que continuemos a depositar nossa credibilidade e aquelas migalhas de bom senso. eu não alimento pombos.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011


aprendi um bocado preenchendo palavras cruzadas de jornais. chamo de destino quando carro de boi encontra letargia num cruzamento vertical e cá entre nós isso não significa nada. isso de destino, quero dizer. ninguém colou um treco na minha testa e disse mantenha-se em tua casta e tudo ficará bem. aliás nunca ninguém me disse nada mais importante que 6-horizontal-dois sintomas da alergia aguda alimentar. eu saio revirando tudo quanto é dicionário e consultando sites privilegiados por search engine optimization. dopamina. é assim que eu tô levando a coisa. todos os dias.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

não desisto dos meus vícios. nem daquele box de filmes do stallone que ainda está lacrado ao lado da pilha de louça suja. a vida deixou de ser biodegradável faz tempo, baby. enchi o chão de tachinhas porque o que aqueles malucos lá da índia fazem ainda me parece um truque tosco. os armários em cima da nossa antiga cama estão emperrados. dobradiças de metal. o panaca que inventou isso não pensou sequer na possibilidade de que as coisas enferrujam, que no ar que ele respira há um componente responsável por oxidação. ele, na sua pressa de ser eternizado pela porra de uma patente, sequer pensou que no armário em cima da nossa antiga cama há um isopor com doses cavalares do amor que a gente estocou. dessa vez eu estou realmente com medo que estrague tudo. quanto tempo duram coisas imersas em nitrogênio líquido, você sabe?