quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

lista de medos cotidianos e outros nem tanto


assalto
sequestro
fim de livro
irmãs mary kate e ashley olsen
intimidade
gravidez
telefone tocando
internação compulsória na montanha de hans castorp
muito fermento
pouco gelo
cisticercose
madrugadas solitárias com a shirley maclaine
traição
arrependimento
pedido de perdão
dorian gray de pirraça no velho álbum de família
mariposa
gafanhoto
louva-a-deus
marlon brando com a boca cheia de algodão
tique nervoso
bigode chinês
ácido úrico
tempos que não curam o amor
nem cólera


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

posfácio

eu queria ter sido uma pessoa melhor
não ter perdido grana nem miolos num jogo de roleta russa
não ter guardado dores e anti-sépticos em embalagens perecíveis
ter desistido de domesticar lobos selvagens
jamais ter me matriculado num curso de pintura da escola panamericana de arte
ter recortado o último quadrinho das tirinhas de jornal
ter lido um pouco mais de gregory corso

e porque não
ressuscitado a alma corsária de reichenbach
eu queria ter secado varizes
ao invés de tentar meias kendall
ter escolhido um time de futebol
e um assassinato com taco de golfe
eu queria não ter achado marlon brando ridículo
em casa de chá do luar de agosto
ter comentado em sites de culinária
fiz e meu marido adorou
eu queria ter evitado pontos excessivos
para tão poucas exclamações
queria ter furado faróis
dobrado esquinas
arriscado um pouco mais
do antes que fosse
tarde demais
 





segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

e quando você vai embora
com teus tênis puma desamarrados
e gestos econômicos
que não olham para trás
- me tirando de eurídice -
e vira sombra
e vulto
e fumaça
depois nada
eu finjo que está tudo bem
mas fica aquele frio
das explosivas noites de detroit
em 1967

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

dólares prum peep show clandestino
(ou pra não dizer pérolas aos porcos)

tirei um bocado de coisas
do caminho
desativei os fios
de alta tensão
pixei criptografias amadoras
na quarta parede
dum boteco fuleiro
li algo sobre houdini
no número 37
da reader´s digest
ou foi sobre a garota chinesa
que ficou presa
na máquina de lavar
entrei numa loja de aviamentos
mas não vendiam
- incompetentes! -
paraquedas de emergência
chutei a canela
de uma estátua viva
aleguei insanidade
temporária
tentei entender
neo-liberalismo
num site de culinária
ganhei três quilos
de juros
coloquei eye of the tiger
no mp3 player
e falei prum cara
- ele acreditou -
que era rocky and roll
assisti mais uma vez
coisas para fazer em denver
quando você está morto
explodi um caixa-forte
com coquetel raskolnikov
contratei um detetive
aposentado por invalidez
pra eu nunca
nunca mais
te perder de vista
(aquele camafeu que ele carregava no peito antes de fugir com a minha grana era de uma beleza impressionante)


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

eu ia brigar com você
usando meu repertório chulo
e meias três quartos
eu ia te dizer game over
em fontes toscas e amareladas
da versão evil do pacman
eu ia pular os letreiros
partir direto
pro the end
mas minhas sombras
as que me prendem a você
zombam de meus atos
como as de gary oldman
em drácula de bram stoker
e eu sigo te oferecendo
um close em 3d
da minha vida em jugular

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

a gente podia tanta coisa, não é? correr atrás do carteiro cantando stop, oh yes, wait a minute mister postman. e aquele cofre enferrujado no quarto, cada um de nós com uma parte da combinação. não tínhamos o que guardar ali, então bolamos aquele plano mirabolante de transportar armas clandestinas num il-76 soviético. num lugar tipo o afeganistão. aquele mapa mundi esticado sobre a mesa e compassos e canetas e réguas. você dizia, fazendo aquele avião de papel sobrevoar o oriente, a gente vai dominar o mundo, garota. você mandando may the force be with you, eu acenando com vida longa e próspera. aquela coleção de falcons que a gente colocou à venda no jardim só pra dançarmos como naquele conto do carver. e eu fico me perguntando se aquela velha jaboticabeira ainda está por lá. eu fico me perguntando se existe um momento onde tudo acaba. mas eu acho que não. eu acho que um dia acontece isso da gente soltar a coleira do cachorro e deixar ele ir. a gente nem pensa muito, sabe? só parece a coisa certa pra se fazer.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

cê sabe o que as pessoas vão fazer quando perdem tudo? quando não têm mais nada? vão jogar vôlei de praia. vão bater palma pra pôr-do-sol e apostar quem enfarta primeiro. com aquela maldita sobriedade de água de coco. é esse o sos malibu que espera a gente. não tem pamela anderson não. com um pouco de sorte tem a garota do samu. mas eu não conto com isso. não conto mesmo. eu tenho esse sonho estranho em que o caminhão vermelho do exército da salvação me leva pra algum lugar. mas sempre fura o pneu. aí o motorista dá três tapas na caçamba e diz algo como "sujou". às vezes nem fala nada. só dá os três tapas. essa é a hora que eu acordo. pra você ver que é sempre isso, brother. é sempre isso que a vida quer dizer. sujou.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

o jeito dela falar comigo, parecia que me colocava no colo e lia os contos da mamãe gansa. deus, eu tinha um bode daquilo. eu só esperava a hora dela dizer "moral da história". mas era o que eu tinha. além de um dodge polara que eu chamava de jim. cor de vinho. impecável. a divine brown não pensaria duas vezes em pagar um boquete pro motorista daquele carro. mesmo nos tempos em que ela ainda se chamava estella marie thompson. mas a vida não costuma ser o que a gente quer. eu até sinto falta dela. do jeito que ela tapava meus olhos e perguntava "adivinha quem é?". eu sempre falava o nome de outras. ela ria, dava um rápido beijo na minha testa e perguntava sobre o meu dia. acho que eu nunca respondi.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

há um risco iminente
de enfarte fulminante
cada vez que te vejo
cada vez que te perco
se você parasse
- você nunca para -
pra ver as oscilações
do meu eletrocardiograma
me abraçaria
com uma camisa de força
você em cima
do velho caixote de maçãs
declamaria todos os poemas
da sylvia plath
- que eu nunca li -
que você decorou
só pra me impedir
de fazer uma besteira
- de fazer uma grande besteira -
você e teu jeito desengonçado
de lançar bóias
salva-vidas


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

lista forbes
das mais ricas dores
do catálogo da avon
protagonistas de novela mexicana
que dizem hola, soy maria carmen
em reuniões do m.a.d.a
fadas metidas em fardas
enchendo de balas toffee
pentes carregadores
de winchesters 44
todos os filmes do mundo
com a palavra fatal
em títulos do tesouro federal
o velho monstro aposentado
no joystick de qualquer moleque
tem apenas uma vida
extra

sábado, 2 de fevereiro de 2013

tu joga um troço vermelho no mato pro cachorro pegar. aí tu fica puto que o cachorro não pega. cachorro não vê vermelho, brother. o burro tá sendo você. não adianta tu dar um nome de pompa pro cachorro e ficar aí no isca! isca! pô, brother, adéqua o palavrório. tem que ter as manha na cabeça. se eu te falar então do que tu faz com as guria, aí o bicho pega. e bicho não tem essa não. bicho pega qualquer coisa. já tu, brother, tá dando nó no vento. falando nisso, vamos andando que vem chuva brava aí.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

sobra um gesto
um acento gráfico
um dia do cão que não pode sair
porque chove
sobra a garota de tranças na janela
esperando o tráfego
passar
esperando o tráfico
chegar
sobra uma coceira no dedão do pé
e o rod stewart
que não quer talk about it
sobra um reggae
ou um rap
um don´t worry
be happy
sobra um ultrassom de tireóide
uma dose de ouzo
um cê tá falando grego
sobra o autorretrato falsificado
de el greco
sobra o boleto do bradesco
com acesso wi-fi
sobra uma fanta laranja
pra receita de hi-fi
sobra a estagiária
no salão oval
e a secretária caliente
maggie gyllenhall
sobra confete
let´s go party
tem um vídeo no youtube
que ensina a abrir espacate