sexta-feira, 24 de maio de 2013


tu me diz
fica na minha
como seu eu fosse
bicho de rinha
tu aposta
antigos cruzados
conjuga presente
em tempo passado
aí tu manda
via sedex
o novo anúncio
da jontex
mas eu mudei
tu nem sabia
aluguei tudo
pra tua tia
agora imagina
a merda que deu
ela correu pro porteiro
dizendo "é tudo teu"
a guarita
ficou às moscas
invadiram tudo
levaram as toscas
poesias
que tu
- eu lamento -
escreveu

segunda-feira, 20 de maio de 2013


um dia, quando eu puder, vou te explicar meu vício em jogos tolos. sobre os sábados que eu te dizia não. do tique nervoso da moça da previsão do tempo e de como eu sentia vontade de enfiar uma moeda no vão da bunda do borracheiro. eu preciso trocar os pneus do meu carro e mandar lavar a marca da tua pegada no porta-luvas. eu te pedia, senta direito, vão achar que estou contrabandeando um legítimo rodin. vou confessar que aquele segredo de estado que te revelei enquanto você estava no chuveiro, eu roubei do wikileaks. mas meu inglês anda tão ruim, acho que falei do golpe errado. ou de outras intenções. sabe o que eu li na seleções? num campeonato de memória, uma tal astrid plessl se lembrou de 71 versos de um poema. já eu, não. eu encho de ataduras o dedão do meu pé, pois no meio do caminho, há sempre drummond.

terça-feira, 14 de maio de 2013


eu sei que nós não vamos ficar juntos. que não teremos vasinhos de flores na janela nem um móbile em cima da cama. sei que não vamos sair procurando um hamster atrás da estante nem o disco perdido do rush. que não teremos apelidos carinhosos pra gritar do banheiro quando esquecermos a toalha. eu sei que você vai me falar que o humor dos irmãos coen é judeu demais e que explicar certas piadas só piora as coisas. você vai dizer que não liga pro cheiro dos meus cinzeiros lotados e pros canhotos da mega-sena que uso pra calçar a cadeira. vai ter o dia que você vai perceber, pela posição defensiva do meu cotovelo direito, que eu não gosto de dormir abraçada. aquele nosso amigo em comum vai te dizer que eu sou esquisita, e você vai me defender por  exatas 48 horas. você vai até imitar o eddie murphy : “You know what I am? I’m your worst fuckin’ nightmare, man. I’m a nigger with a badge which means I got permission to kick your fuckin’ ass whenever I feel like it!”. nessa hora eu vou dar muita risada, pode acreditar. mas depois não vai ser assim. eu vou te confessar, entre outras coisas, que acho o eddie murphy um babaca e que converso com meu cachorro. aí eu vou abrir aquele meu livro enorme do haruki murakami e ler bem aquela parte na qual o protagonista se pergunta: “sobre o que mesmo ela falava?”.

segunda-feira, 13 de maio de 2013


só que aí de merda, né? nosso lamentável poder de previsão das coisas resolveu declarar falência de vez. meu vizinho é atendente do cvv, eu escuto uma pá de conselhos que ele dá de madrugada. depois que ele transformou o apartamento num loft o som reverbera que é uma beleza. entre uma ligação e outra o cara ouve neil young. sempre a mesma música. heart of gold. o neil leva mó tempão pra escolher a gaita certa. e é engraçado. é bem engraçado. carisma, saca? daquele que dá a certeza de que tudo vai ficar bem, é só esperar o tempo certo. não sei se é assim pras pessoas do outro lado da linha do telefone do meu vizinho. acho que nem ele sabe. tenho a impressão de que é só um trabalho. talvez role um bônus por suicidas recuperados e ele possa comprar uma lava-louças. ou ele nem queira uma. o que a gente sabe sobre a vida dos outros, né? eu tava falando da gente e acabei me dispersando. mas, como eu vi outro dia pichado num muro, “a gente já fomos”. assim mesmo. conjugando gente como nós.
 

tem um troço aqui que se eu escrever você vai, finalmente, se apaixonar por mim. não é nada genial, não, nem algo que você não tenha lido antes. mas você, né? você com esse seu déficit de atenção feito acordo quebrado com uma puta cansada chamada rita leena. mas se você parar pra ler - vai te custar três segundos e uns quebrados - você vai passar a mão nesse telefone e me ligar logo depois. eu vou fingir surpresa, tipo nem tava esperando por sua chamada. eu costumo atender no quarto toque, senão cai na gravação. quando eu era criança, eu sempre quis ter uma secretária eletrônica com aquelas mini fitas cassete. agora eu tenho, mas é digital e fala espanhol. “no hay nuevas mensajes” é o que ela anda repetindo no fim do dia. mas tudo bem, pouquíssimas pessoas têm esse número e telecomunicações já tiveram dias melhores. enfim, quando a gente estiver junto eu vou poder te contar uma série de outras coisas que você, como um cara deliberadamente apaixonado, não vai nem se importar com suas mãos enroscadas no meu cabelo. eu sei que pareço um tanto pretensiosa às vezes, mas já tô mesmo na idade de dar um chute nas bolas do recalque. olha, o envelope é pardo e eu vou optar pelo sedex 10 ao invés de comprar um novo maço de cigarros. só não esqueça, the postman always rings twice. a gente se vê.          

na época tu sabia que não ia dar em nada. que provavelmente tu ia ficar com aquela cara de rebento prematuro de carpideira. tu ia apertar até a goela o colarinho engomado da camisa pra dar uns três tragos num minister. tu nem fumava, porra. tu mastigava palito e mentex. tudo devagar. tudo bem devagar. tudo pra ela ter tempo pra vida dela. sei não, cara, mas acho que foi aí que tu vacilou. faz o que agora, sete anos? vê se pelo menos mete uma meia nos pés. geada, quando bate, parece que é dentro de casa.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

vai logo
fala
grita
como dizia minha avó
desembucha
cê fica
no ensaio
gagueira
tosse de sala de cinema
enquanto isso
o tempo
que já não é nosso brother
dá a terceira canja
em primeiros beijos
de corações
desavisados

uma última conversa com H.A.L.

opções?
algumas
razões?
poucas
emoções?
ah, roberto, né?
amores?
vão
em vãos
voltam?
alguns
mas creio que é
um erro
sorte?
osso de galinha
destino?
com o que sobra
a gente faz
coxinha
poesia?
não, rima
poesia?
despertador
poesia?
acordar
tecnologia?
paciência spider
pra windows 7
não dá dica
tempo?
faz frio
e horas
fim?
a gente
sempre pensa
que sim

segunda-feira, 22 de abril de 2013


você saiu
eu gritei
volta
mas o maldito
efeito doppler
violado
espatifado
no vermelho espumante
do extintor de incêndio
fez do eco
nada
perambulando
cego
no hall da entrada

sábado, 20 de abril de 2013

coisas que você perdeu
porque não me viu
minhas unhas pintadas
com uma cor de nome
noite de gala
(você pensou que eu ia fazer um trocadilho com beija-flor, né? mas não é cazuza, é colorama mesmo)
uma espinha enorme
na terceira visão
feito cosplay
de lobsang rampa
uma anotação em negrito
não usar atum ralado
em tortas de liquidificador
(ah, que coisa, tá parecendo mesmo plágio do cazuza)
meu novo jeito
de prender o cabelo
quase igual
mas pro lado esquerdo
um brinde de borracharia
que eu pendurei na porta de entrada
chamam de calendário
eu de saudade
(tinha um agenor no comercial da dpaschoal, lembra?)

quinta-feira, 18 de abril de 2013

casamento
substantivo masculino
ou
aquilo que ocupa
quarenta metros quadrados
de convivência decorada
com plágios baratos
de andy warhol

terça-feira, 16 de abril de 2013


morre-se
assim
todos os dias
em atentados
chacinas
epidemias
de velhice
engasgado
alergia crônica
a aspirina
sem ar
de asma
sem paradeiro
da bombinha
de incêndio
parto
câncer
e astrologia
overdose
de anti-heróis
da coleção sabrina
cirrose
derrame
greve de fabricantes
de insulina
de ruas
calçadas
e bigornas lançadas
para testes
de pontaria
suicídio para combater
fibromialgia
de amor
e tudo
que não é
recíproco

quarta-feira, 10 de abril de 2013

e num canto
do criado-mudo
ao lado do tubo
de inseticida
a primeira punheta
vazia
pra segunda garota
do fantástico

segunda-feira, 8 de abril de 2013

então
quando eu te chamar
pelo nome errado
porque eu sou assim
- me confundo -
não fala nada
só me dá
alguns segundos
pra que tudo
volte
ao lugar

domingo, 7 de abril de 2013

a primeira vez que a vi
ela sorria de um jeito
que caramba!
e ela perguntou
você tem horas?
eu respondi
todas
a partir de agora
pretéritos
como alguns dias
só os mais que
perfeitos

sábado, 6 de abril de 2013

nossos cacos
gags
migalhas
impunes
imunes
depositados
- caução cautela proteção -
no fundo de
nossos copos
corpos
abscessos
encharcando lençóis
baratos
floridos
rasgados
pelo tempo
e traças

sexta-feira, 5 de abril de 2013

a qualquer filme
de tony scott
prefiro bourbon

pra não dizer que não rimei as dores

ela fazia aquele silêncio de bíblia sem cid moreira
escancarava umas dores esquisitas
e um leve cheiro de amônia
ela passava cerol em sabonetes de banheiros públicos
e borrava os olhos com insulina
mordia latas de leite condensado
algemava os tornozelos de galinhas
antes de saltar ela disse que odiou
o último filme do dennis farina

quarta-feira, 3 de abril de 2013

sinal de ocupado
em todas as linhas
do tele-sexo
nó na
garganta
nas juntas
de nós
- nossas -
remendadas
com durepox
dia de cão
que chafurda
em teus restos
rasos
cão que não trepa
na segunda-feira
feito ele
te esqueço
então penso
em linda
lovelace
mas o que escorre
entre meus dedos
é só leite de magnésia
da phillips

terça-feira, 2 de abril de 2013

e um medo estranho
de envelhecer
na hora de usar
o caixa eletrônico

domingo, 31 de março de 2013

tenho o nome de outro cara
tatuado no cóccix
caso você queira saber
antes de tirar a minha roupa
que as coisas pra mim
mesmo as que não se apagam
não duram muito tempo

sexta-feira, 29 de março de 2013

ela se chamava deborah
por causa da música do vangelis
e quando ela enchia a cara de vodka
e lambia
os dedos dos meus pés
eu a chamava de anjo
meu anjo
- eu dizia –
e tirava o elástico
dos seus cabelos
e o prendia em meu pulso
até que o tempo
e as veias
feito giletes sem fio
vibrassem
até parar

quinta-feira, 28 de março de 2013

o maldito azulejista
alinhou os detalhes
das paredes do banheiro
feito a espinha dorsal
do corcunda de notre dame
meu pato de borracha
que se chamava marcelo
mastroianni
morreu de vertigem
afogado
na trilha sonora
música de cantina
só eu lá
de carpideira
no funeral de seu sonho
fontana di trevi

terça-feira, 26 de março de 2013

em teus lábios
quando você diz
coisas cheias de vogais
como iowa
- é no que ando pensando -

segunda-feira, 25 de março de 2013

domingos são tão emocionantes
quanto perder chinelos
ou esperar a tinta da parede secar
parecem jogos de críquete
domingos espalham migalhas de pão
para que a gente encontre o atalho
pras saias floridas de nossas mães
e logo depois enchem o céu
de corvos macrobióticos
domingos não têm respaldo sociológico
do pew research center
e cultivam cleptomaníacos do tempo
domingos são nomes de velhos vizinhos
que agora têm medo do elevador
domingos destroem guarda-chuvas automáticos
em tempestades de molho ao sugo
domingos dizem aguardem
a próxima música dos titãs
no top ten
da rádio metropolitana
me recuso a falar das segundas-feiras

sexta-feira, 22 de março de 2013

não me interessam
hobbits
hobbies
harold hobbs
nem double cheeseburgers
que tu compra no bob´s
tudo tão irrelevante
quanto espiga de milho
sabe o nome?
corn cob
tenta de novo
um advertising
coloca mais blow
nesse teu job
ou fica parado
quem sabe assim
tu ganha fama
num flash mob

quinta-feira, 21 de março de 2013

você
fichas
pôquer
a garota de americana tirando a roupa
bêbada de
rímel
marcas
amostras
de bolhas nos calcanhares
antes o
barulho da campainha
tua mão straight flush
a outra na maçaneta
ela ri
ela diz
sou de americana
ela diz
yes we can
ela sente vontade
de chamar os outros caras
hey, guys!
e pede um martini
e mais um
e outro
se não fosse pedir demais
- não era -
serviços de escort
sempre batem
na porta errada


quarta-feira, 20 de março de 2013

faz tempo
que john steinbeck
não me faz chorar
no quesito desgraça
humana
o velho john
- que eu ando desprezando –
que em 1947
já sabia
que o destino,
baby
o destino
viaja de ônibus
e quando você chega
agora às seis
ou seis e meia
começam os primeiros barulhos
dos chuveiros dos vizinhos
ouve

os casacos esquecidos no armário
no último inverno
de folhas tristes
e lágrimas geladas
feito nitrogênio líquido
que conservava os corações
solitários e imunes
e a vista embaçava
e as juntas dos velhos doíam
ficavam apenas as penas
das aves migratórias
os casacos esquecidos no armário
tão cheirando a mofo, porra!

domingo, 17 de março de 2013

um pequeno príncipe
eternamente responsável
por um chevrolet captiva

coelho de panela da glenn
para amantes que vivem
so close

uma generosa dose
de blade mary
para wesley snipes

uma almofada
com a etiqueta
super macia bourne

eu queria saber de você
mas meu e-mail do ig
só abre um pop-

up

quarta-feira, 13 de março de 2013

schedule

mais ou menos 200 ml de café
recall da última besteira feita
ah, sim, a dieta
a maldita dieta
comprar argo no camelô por 2,50
pra deixar de implicar com o ben affleck
ligar no sac do arroz prato fino
que tava cheio de gorgulho
colocar google no google
- feito, não tem graça –
trocar a água da rosa
que a loja de sapatos ofereceu
no dia 8 de março
controlar o pânico de mariposas
que vêm do jardim do prédio
da tokyo marine
colocar na mesinha branca
ao lado da rosa
a belíssima edição de stendhal
então torcer para que ele seja flamenguista
e eu não precise dizer mais nada


segunda-feira, 11 de março de 2013

aí o cara desapareceu
aí tu ficou puta
aí tu esperou mais uma pá de dias
aí tu ficou mais puta ainda
aí o cara liga
aí o filho da puta do cara liga pra te desejar um feliz dia internacional da mulher
aí tu vai até o armário da cozinha
aí tu pega aquela faca de açougueiro
aí tu manda afiar a faca de açougueiro
aí tu sente que o afiador tá com medo de você
aí tu paga pra aliviar e diz que ficou bom
aí o afiador sai fora rapidinho
aí tu quer rir mas tu tá puta
aí tu vai fazer tocaia na porta do cara
aí o cara sai
aí tu chega perto com a faca de açougueiro
aí tu não fala nada
aí tu fica vendo o reflexo da faca na cara dele
aí ele tenta falar alguma coisa
aí tu não ouve
aí ele grita
aí ele não fala mais nada
aí tu volta pra casa
aí tu deita na cama
aí tu tá em paz
aí vem nego falar de tpm
aí tu pensa que pode ser
mas tu nem liga


domingo, 10 de março de 2013

o problema,
cowboy
é que timing
nunca foi
nosso forte
apache

yard sale
do que não cabe mais
em espaços além
dos tridimensionais

loser
poser
bulldozer
deixa disso
fica closer
dança comigo
earth
wind
& gunfire
pra gente gritar
já era
banzai

sexta-feira, 8 de março de 2013

cara, eu sou muito cagada. se liga no naipe das coisas que andam rolando comigo. vou começar por um sonho. aquilo de sempre, lugar estranho que parece familiar e tals, uma mala perdida e um avião que eu tenho que pegar prum outro lugar que também seria estranho. não posso te falar com certeza porque eu nunca chego. mas enfim, nesse último ia rolar um ménage a trois. chame de threesome se quiser ou mesmo sacanagenzinha. a mina era bonita, camisa branca, um cabelo meio que no ombro, enrolado. não era muito nova não, já tava naquela idade que as pessoas chamam de charmosa. e era charmosa mesmo. aí vem o cara. tá sentado? pois é, eu também tava no sonho. mas o cara era um dos personagens da escolinha do professor raimundo. da primeira edição. e na primeira edição ele já tinha uns 70. imagina agora. sim, porque o sonho ainda teve a pachorra de seguir a cronologia do indivíduo. você tem noção de uma coisa dessas? o puto do morfeu com aquela cara de laurence fishburne sentado num trono e tirando onda da minha cara? porra, meu, eu sou mó ligada em filmes de ação e tudo, por que não me mandaram o jason statham ou o bruce willis? escolinha do raimundo, cara? queriam o quê? que eu ainda gritasse iça no final da coisa? olha, eu não tenho condição de contar mais nada. você tire as conclusões que quiser. quarta-feira que vem eu volto. o golias pelo menos me faria dar risada. não, não o do davi. ou você acha que em sonho meu teria homem pra lá de dois metros? se liga, né? vê se começa a prestar atenção no que eu falo. até quarta.



a gente envelhece
dormindo às dez
acordando às seis
ameaçando pernilongos em voz alta
antes de errar o tapa
a gente envelhece
medindo a circunferência do braço
evitando usar regatas
se cadastrando em sites de receitas
e consultando horóscopos
a gente envelhece
dormindo de meias
falando pra manicure
no pé só um rosinha básico
a gente envelhece
cantarolando a música
de ao mestre com carinho
descobrindo na wikipedia
que o sidney poitier ainda tá vivo
a gente envelhece
recusando convites
lembrando que piquenique
era chamado de convescote
nos clássicos que ainda não lemos
a gente envelhece
gerundiando
esperando uma oferta incrível
da garota do telemarketing

terça-feira, 5 de março de 2013

cachorro não sabe que tá ficando cego. cachorro acha que o mundo tá ficando escuro. tá seguindo meu raciocínio? não vai ter revolta, nem mad max. não vai ter nada. e pra sorte deles, nem ensaio chato do saramago. eles vão começar a bater a cabeça nas coisas. mas é só um mundo escuro e cheio de coisas. eu queria que você pensasse sobre isso. isso que você chama de razão, cheia de empáfia nos olhos. leve o tempo que quiser. eu nunca fui de ter pressa.

sábado, 2 de março de 2013

.


agora tem esse global aí vestido de pinguim falando que esse tal papel neve alivia o cheiro do cestinho. aqui não tem cestinho não, brother. aqui tem balde. entendeu? b-a-l-d-e. balde. e outra, se mané vem aqui e reclama de cheiro de cestinho eu arrebento. eu faço meter as fuças num monte de esterco. só pra ficar esperto. pra num vim mais com firula pra cima de mim. aqui a coisa fede mesmo. vai ver se a vida lá fora tá cheirando rosa. porra nenhuma. e sou eu que tenho que aliviar? mas não mesmo. pinguim que vá cantar de galo lá pros lados do papai noel. porque deve acreditar no véio. só pode. 

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

lista de medos cotidianos e outros nem tanto


assalto
sequestro
fim de livro
irmãs mary kate e ashley olsen
intimidade
gravidez
telefone tocando
internação compulsória na montanha de hans castorp
muito fermento
pouco gelo
cisticercose
madrugadas solitárias com a shirley maclaine
traição
arrependimento
pedido de perdão
dorian gray de pirraça no velho álbum de família
mariposa
gafanhoto
louva-a-deus
marlon brando com a boca cheia de algodão
tique nervoso
bigode chinês
ácido úrico
tempos que não curam o amor
nem cólera


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

posfácio

eu queria ter sido uma pessoa melhor
não ter perdido grana nem miolos num jogo de roleta russa
não ter guardado dores e anti-sépticos em embalagens perecíveis
ter desistido de domesticar lobos selvagens
jamais ter me matriculado num curso de pintura da escola panamericana de arte
ter recortado o último quadrinho das tirinhas de jornal
ter lido um pouco mais de gregory corso

e porque não
ressuscitado a alma corsária de reichenbach
eu queria ter secado varizes
ao invés de tentar meias kendall
ter escolhido um time de futebol
e um assassinato com taco de golfe
eu queria não ter achado marlon brando ridículo
em casa de chá do luar de agosto
ter comentado em sites de culinária
fiz e meu marido adorou
eu queria ter evitado pontos excessivos
para tão poucas exclamações
queria ter furado faróis
dobrado esquinas
arriscado um pouco mais
do antes que fosse
tarde demais
 





segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

e quando você vai embora
com teus tênis puma desamarrados
e gestos econômicos
que não olham para trás
- me tirando de eurídice -
e vira sombra
e vulto
e fumaça
depois nada
eu finjo que está tudo bem
mas fica aquele frio
das explosivas noites de detroit
em 1967

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

dólares prum peep show clandestino
(ou pra não dizer pérolas aos porcos)

tirei um bocado de coisas
do caminho
desativei os fios
de alta tensão
pixei criptografias amadoras
na quarta parede
dum boteco fuleiro
li algo sobre houdini
no número 37
da reader´s digest
ou foi sobre a garota chinesa
que ficou presa
na máquina de lavar
entrei numa loja de aviamentos
mas não vendiam
- incompetentes! -
paraquedas de emergência
chutei a canela
de uma estátua viva
aleguei insanidade
temporária
tentei entender
neo-liberalismo
num site de culinária
ganhei três quilos
de juros
coloquei eye of the tiger
no mp3 player
e falei prum cara
- ele acreditou -
que era rocky and roll
assisti mais uma vez
coisas para fazer em denver
quando você está morto
explodi um caixa-forte
com coquetel raskolnikov
contratei um detetive
aposentado por invalidez
pra eu nunca
nunca mais
te perder de vista
(aquele camafeu que ele carregava no peito antes de fugir com a minha grana era de uma beleza impressionante)


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

eu ia brigar com você
usando meu repertório chulo
e meias três quartos
eu ia te dizer game over
em fontes toscas e amareladas
da versão evil do pacman
eu ia pular os letreiros
partir direto
pro the end
mas minhas sombras
as que me prendem a você
zombam de meus atos
como as de gary oldman
em drácula de bram stoker
e eu sigo te oferecendo
um close em 3d
da minha vida em jugular

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

a gente podia tanta coisa, não é? correr atrás do carteiro cantando stop, oh yes, wait a minute mister postman. e aquele cofre enferrujado no quarto, cada um de nós com uma parte da combinação. não tínhamos o que guardar ali, então bolamos aquele plano mirabolante de transportar armas clandestinas num il-76 soviético. num lugar tipo o afeganistão. aquele mapa mundi esticado sobre a mesa e compassos e canetas e réguas. você dizia, fazendo aquele avião de papel sobrevoar o oriente, a gente vai dominar o mundo, garota. você mandando may the force be with you, eu acenando com vida longa e próspera. aquela coleção de falcons que a gente colocou à venda no jardim só pra dançarmos como naquele conto do carver. e eu fico me perguntando se aquela velha jaboticabeira ainda está por lá. eu fico me perguntando se existe um momento onde tudo acaba. mas eu acho que não. eu acho que um dia acontece isso da gente soltar a coleira do cachorro e deixar ele ir. a gente nem pensa muito, sabe? só parece a coisa certa pra se fazer.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

cê sabe o que as pessoas vão fazer quando perdem tudo? quando não têm mais nada? vão jogar vôlei de praia. vão bater palma pra pôr-do-sol e apostar quem enfarta primeiro. com aquela maldita sobriedade de água de coco. é esse o sos malibu que espera a gente. não tem pamela anderson não. com um pouco de sorte tem a garota do samu. mas eu não conto com isso. não conto mesmo. eu tenho esse sonho estranho em que o caminhão vermelho do exército da salvação me leva pra algum lugar. mas sempre fura o pneu. aí o motorista dá três tapas na caçamba e diz algo como "sujou". às vezes nem fala nada. só dá os três tapas. essa é a hora que eu acordo. pra você ver que é sempre isso, brother. é sempre isso que a vida quer dizer. sujou.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

o jeito dela falar comigo, parecia que me colocava no colo e lia os contos da mamãe gansa. deus, eu tinha um bode daquilo. eu só esperava a hora dela dizer "moral da história". mas era o que eu tinha. além de um dodge polara que eu chamava de jim. cor de vinho. impecável. a divine brown não pensaria duas vezes em pagar um boquete pro motorista daquele carro. mesmo nos tempos em que ela ainda se chamava estella marie thompson. mas a vida não costuma ser o que a gente quer. eu até sinto falta dela. do jeito que ela tapava meus olhos e perguntava "adivinha quem é?". eu sempre falava o nome de outras. ela ria, dava um rápido beijo na minha testa e perguntava sobre o meu dia. acho que eu nunca respondi.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

há um risco iminente
de enfarte fulminante
cada vez que te vejo
cada vez que te perco
se você parasse
- você nunca para -
pra ver as oscilações
do meu eletrocardiograma
me abraçaria
com uma camisa de força
você em cima
do velho caixote de maçãs
declamaria todos os poemas
da sylvia plath
- que eu nunca li -
que você decorou
só pra me impedir
de fazer uma besteira
- de fazer uma grande besteira -
você e teu jeito desengonçado
de lançar bóias
salva-vidas


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

lista forbes
das mais ricas dores
do catálogo da avon
protagonistas de novela mexicana
que dizem hola, soy maria carmen
em reuniões do m.a.d.a
fadas metidas em fardas
enchendo de balas toffee
pentes carregadores
de winchesters 44
todos os filmes do mundo
com a palavra fatal
em títulos do tesouro federal
o velho monstro aposentado
no joystick de qualquer moleque
tem apenas uma vida
extra