segunda-feira, 25 de outubro de 2010


E ele queria usar palavras como sobrolho, vicissitude, tergiversar, queria contar que esteve na Antuérpia e pegou um trem, que tragava fumaça de charutos e caçava alces numa savana qualquer. Queria dizer que admirava Egon Schiele e que carregava no bolso a herança de um tio distante. Ele queria falar das alergias que teve na infância e de um matadouro de porcos que funcionava atrás do armazém. Queria dizer que tinha um problema no coração e que às vezes o ar lhe faltava. Que adormecia em filmes longos e que não tivera filhos. Que eram poucos os sonhos dos quais se lembrava. Que desconfiava que não sonharia mais.

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