eles se reunem
em hotéis
convenções para vender
raladores elétricos de queijo
estratégias para convencer
potenciais compradores
de raladores elétricos de queijo
e ganham uniforme
um crachá
com uma foto
daquele sorriso besta
para que saibam se distinguir
uns dos outros
segunda-feira, 30 de julho de 2012
domingo, 29 de julho de 2012
sexta-feira, 27 de julho de 2012
você tem isso de viver entre mudanças
de números do relógio digital
escolhe o toque canto do galo pra acordar
pra que tudo seja assim mesmo
ridículo
como as pantufas que você mete nos pés
pra dar uma de pato donald
no holiday on ice
tem aquela iluminação via spot
tudo mó style
que o próximo inquilino
vai mandar arrancar
e a constelação de órion
que você montou com o velho kit de starfix
e acabou chamando de nebulosa
só pra impressionar a garota míope
que você esqueceu
semana passada
na sala de estar
quarta-feira, 25 de julho de 2012
a gente finge que não se importa
ter mais de 40
perda óssea
e uso obrigatório de lentes corretivas
ter se apaixonado loucamente por holden caulfield
e desprezado ferris bueller
ouvir 'brigado, tia'
ter jogado tudo pelos ares
e se atrapalhar com tecnologia touch screen
ter perdido aquele cara pruma garota
e aquele outro também
com a bombinha de aerolin no criado-mudo
e uma impaciência com parágrafos que descrevem paisagens
com o preço do restaurador pro-age-active
em passar incólume pela blitz do bafômetro
e doar nossas camisetas já curtas demais
em sentir alívio porque o que aconteceu era apenas bullying
com a solidão do quarto de hotel
e o espelho virado pra parede
a gente finge que não se importa
com um novo dia
ter mais de 40
perda óssea
e uso obrigatório de lentes corretivas
ter se apaixonado loucamente por holden caulfield
e desprezado ferris bueller
ouvir 'brigado, tia'
ter jogado tudo pelos ares
e se atrapalhar com tecnologia touch screen
ter perdido aquele cara pruma garota
e aquele outro também
com a bombinha de aerolin no criado-mudo
e uma impaciência com parágrafos que descrevem paisagens
com o preço do restaurador pro-age-active
em passar incólume pela blitz do bafômetro
e doar nossas camisetas já curtas demais
em sentir alívio porque o que aconteceu era apenas bullying
com a solidão do quarto de hotel
e o espelho virado pra parede
a gente finge que não se importa
com um novo dia
terça-feira, 24 de julho de 2012
sexta-feira, 20 de julho de 2012
eu lembro de quando te falei que tava saindo com outro. e você me disse parabéns, ou que bom, ou qualquer merda de incentivo que eu não queria escutar. você até me disse ele é um cara bacana. eu tava me lixando, cara. eu tava me lixando praquele lençol da riachuelo que ele prendia nos pés da cama. ou pra minha cara de idiota fechando os olhos só pra imaginar que era você que tava lá. mas não era. era o cara bacana. era o filho da puta do cara bacana que me acordou com meia dúzia de flores só esperando meu sorriso torto. eu quis te fazer engolir cada uma das flores, te fazer engasgar com aquele lacinho em tom pastel e letras douradas. tava escrito eu te amo ou coisa pior. e ele ficou achando que meu silêncio tinha um quê de gratidão. ele ficou achando que eu tava feliz com tudo aquilo. que eu ia finalmente parar de arranhar minha nuca e deixar meu cabelo crescer.
sábado, 14 de julho de 2012
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Socos no escuro. Esse é o primeiro romance da Camila F. (linkada ao lado - Camila Fraga - e que também escreve o b. morreu). Eu sempre digo a ela que ela é, acima de tudo, uma garota corajosa pacas. E ela me pediu pra escrever a orelha do livro. Tem pouca coisa que me deixa mais feliz que um pedido desse. Ainda mais estando no mesmo volume que um prefácio pra lá de bacana do Bruno Bandido. Não conheço a Camila pessoalmente, mas é como se não a conhecesse pessoalmente por muito tempo. Coisa de honra mesmo ter recebido esse convite.
"Depois de Eva, Sara foi a primeira mulher na
bíblia a receber mais do que uma observação passageira. Sara. É esse o
nome que Camila F. empresta à protagonista de Socos no Escuro. Mas o
evangelho que Sara segue aqui é outro, é regido por um cristo gordo de
saias que mastiga cruelmente sua devota. E pior. Ele a cerca de
coadjuvantes que vão de garotinhos de merda a lésbicas violentas que têm
pouco mais que a gentileza vazia de perguntar se está tudo bem. Não
está tudo bem. Sara arrasta sua tristeza e melancolia pelas ruas, bares e
camas da Espanha como um fantasma que suga os próprios dedos dos pés e
ninguém ouve o barulho das correntes. Ela se alimenta de bebidas baratas
- com alguma sorte de um pedaço de pizza e um pouco de haxixe – de
espermas, do sangue de seu próprio corpo que ela dilacera com lâminas e
chaves de casa, de uma esperança a milhares de quilômetros que se chama,
ironicamente, Pedro. A vida a está sacaneando sem traço algum de
piedade e ela vai vomitar tudo isso nos nossos pés. Ao virar a página,
caro leitor, esteja certo de ter ao seu lado uma flanela úmida. Ou feche
o livro e coloque uma boa música para tocar. Com o volume bem alto.
Porque em suas mãos uma criança com os cabelos presos no varal está
gritando."
Adriana Brunstein
quarta-feira, 11 de julho de 2012
terça-feira, 10 de julho de 2012
da falta que a gente sente
do que ainda não perdeu
do primeiro gesto da manhã
do último aceno no aeroporto
do avental enrolado na cintura
do tempo marcado em rabiscos na parede
do meu cuidado excessivo com leis de trânsito
do não perturbe na porta do quarto do hotel
de gastar dois e cinquenta no falido serviço
do disque-piada
do tostex enferrujado na boca do fogão
do make it a suntory time do bill murray
de um erro reparado em 444 páginas
de um livro do ian mcewan
de um post-it que já não tem cola
onde você havia reescrito
aquela velha cantiga de ninar
uma criança que tem medo de fantasma
sexta-feira, 6 de julho de 2012
te amo com o descuido de quem oferece um sunshine drink a ray charles. como quem escancara um sorriso num domingo em família enquanto bulina um pé debaixo da mesa. mais. como a recordação sádica do velho que na infância meteu um lápis nas costas do coleguinha da frente. por motivo algum. como quem tritura a orelha de holyfield com uma dentadura de vampiro. como quem espera anos pra se vingar do assédio do conselheiro tutelar. como sam neill decepando o dedo da holly hunter pra ela parar com aquele piano. ou de dar pro harvey keitel. não me lembro.
quinta-feira, 5 de julho de 2012
uma noite
drinks inpirados na dinastia tudor
na vitrola um desaparecido
emmet ray
você sonha com receitas farmacêuticas
pra comprar frango à passarinho
no jornal
alguém luta contra o câncer
na página principal
uma manhã
vacilo um bom dia
acendo o último cigarro e te digo
- acabou -
você diz
deixa comigo
- você não entendeu -
e sai
e deixa tudo vazio
tudo parado
como se toda ação
estivesse em hollywood
michael bay faz tom cruise
aterrisar na mansão
pra matar o terrorista
não torço por ele
mas eu sorrio com sua volta
- ele ainda está vivo -
você pensa que eu falo do terrorista
ou do cara que luta contra o câncer
mas não
(é do meu amor por você
que eu tô falando)
terça-feira, 3 de julho de 2012
aparamos cantos frestas vértices tangentes
pontas do cabelo
damos de cara com ângulos retos por conta de nossos gestos
obtusos
pescamos peixes enlatados na boca do vulcão
tapamos as dores com emplastros puídos
compramos eu te amo no segundo dia da promoção
erramos notas acordes melodias
desafinamos a sexta-feira
e o refrão
salvamos cachorros de incêndios
alimentamos gatos com ratos de experimentação
nos imortalizamos em brasões pendurados na parede da sala de estar
martelamos forte pro vizinho reclamar
lançamos o despertador pela janela pro tempo parar
de passar
economizamos vírgulas pra não termos que respirar
morremos em corpos eretos e reencarnamos assim
deitados
até a chuva passar
pontas do cabelo
damos de cara com ângulos retos por conta de nossos gestos
obtusos
pescamos peixes enlatados na boca do vulcão
tapamos as dores com emplastros puídos
compramos eu te amo no segundo dia da promoção
erramos notas acordes melodias
desafinamos a sexta-feira
e o refrão
salvamos cachorros de incêndios
alimentamos gatos com ratos de experimentação
nos imortalizamos em brasões pendurados na parede da sala de estar
martelamos forte pro vizinho reclamar
lançamos o despertador pela janela pro tempo parar
de passar
economizamos vírgulas pra não termos que respirar
morremos em corpos eretos e reencarnamos assim
deitados
até a chuva passar
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