quinta-feira, 12 de julho de 2012

Socos no escuro. Esse é o primeiro romance da Camila F. (linkada ao lado - Camila Fraga - e que também escreve o b. morreu). Eu sempre digo a ela que ela é, acima de tudo, uma garota corajosa pacas. E ela me pediu pra escrever a orelha do livro. Tem pouca coisa que me deixa mais feliz que um pedido desse. Ainda mais estando no mesmo volume que um prefácio pra lá de bacana do Bruno Bandido. Não conheço a Camila pessoalmente, mas é como se não a conhecesse pessoalmente por muito tempo. Coisa de honra mesmo ter recebido esse convite.

"Depois de Eva, Sara foi a primeira mulher na bíblia a receber mais do que uma observação passageira. Sara. É esse o nome que Camila F. empresta à protagonista de Socos no Escuro. Mas o evangelho que Sara segue aqui é outro, é regido por um cristo gordo de saias que mastiga cruelmente sua devota. E pior. Ele a cerca de coadjuvantes que vão de garotinhos de merda a lésbicas violentas que têm pouco mais que a gentileza vazia de perguntar se está tudo bem. Não está tudo bem. Sara arrasta sua tristeza e melancolia pelas ruas, bares e camas da Espanha como um fantasma que suga os próprios dedos dos pés e ninguém ouve o barulho das correntes. Ela se alimenta de bebidas baratas - com alguma sorte de um pedaço de pizza e um pouco de haxixe – de espermas, do sangue de seu próprio corpo que ela dilacera com lâminas e chaves de casa, de uma esperança a milhares de quilômetros que se chama, ironicamente, Pedro. A vida a está sacaneando sem traço algum de piedade e ela vai vomitar tudo isso nos nossos pés. Ao virar a página, caro leitor, esteja certo de ter ao seu lado uma flanela úmida. Ou feche o livro e coloque uma boa música para tocar. Com o volume bem alto. Porque em suas mãos uma criança com os cabelos presos no varal está gritando."

Adriana Brunstein