quinta-feira, 31 de maio de 2012

Minha participação, acompanhada pelo Fábio Brum, no Desconcertos de Poesia. É só clicar aqui.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Meu livro já pode ser adquirido através do e-mail panelinhabooks@gmail.com. Logo mais a editora Panelinha Books o distribuíra em alguns pontos. Sobre ele, nada melhor que as palavras do Lourenço Mutarelli que assina o prefácio abaixo:

Quando entrei em “Estado Fundamental” não tive o cuidado de verificar o endereço do prédio. Fui entrando, simplesmente. Pensando que conhecia Adriana, entrei desarmado. De início fiquei espantado, pois a voz que ouvi não era a dela. A voz que me guiava era a dele, desse nada. Eu devia ter tido mais cuidado. É sempre bom ter cuidado quando se segue alguém que se apresenta dessa forma, nada. Esse nada que se aloja. Ao andar pelos corredores do prédio pude ouvir sons e vozes familiares que escapavam pelas frestas das portas e por outras frestas, também. Ouvi vozes muito familiares. Em um dos apartamentos julguei ter ouvido a minha. Já havia estado, inclusive, num apartamento de uma tal de Marla. Mas, a Marla que conheci era um fantasma. Não sei o mesmo. Não sei se os fantasmas, assim como os anjos, têm sexo. Há muito não entrava tão profundamente em um livro. Adriana Brunstein escreve como um homem. Digo, no bom sentido, porque o personagem principal, cujo nome não se pode pronunciar, é um homem. É impossível perceber qualquer vestígio de Adriana, da Adriana que eu conheço, nesse tal, nesse tal de nada. A história é sombria porque outro prédio provavelmente muito mais luminoso recebe a luz direta do sol. E esse outro prédio luminoso, afortunado, com cômodos muito maiores e famílias reduzidas encobre e rouba toda luz que poderia chegar e despeja nesse prédio apenas sombra. Nesse prédio cujo endereço não conferi. Toda a cidade, todos os personagens, os bares parecem fazer parte do mesmo cenário. Todos os lugares aqui têm o mesmo endereço. Não quero falar da história que é cíclica e por isso, infinita. Desejo que entre e percorra essas páginas. Que descubra que seguimos todos a mesma lei, nem humana nem divina. Simplesmente física. Entre e descubra o nome desse nada. Descubra o endereço desse edifício miserável. Ao fim da leitura percebi que nesse mesmo prédio moram os meus personagens. Eles bebem nesse mesmo bar. Mas, o que mais me desconcertou foi descobrir porque Adriana não batizou seu protagonista. Porque ele tem o seu nome. Ele tem o meu nome. E Adriana fala no timbre da nossa voz. “O resto é estática”.

terça-feira, 29 de maio de 2012


qualquer filme de shakespeare com harry dean stanton

deus! lars von trier não. eu raramente evoco o nome divino pra fazer um apelo, mas nesse caso, com o perdão que me cabe por direito, eu tô gastando amém. na boa, cara, eu consegui brochar com a nicole kidman arrastando correntes e olha que eu tentei a coisa até meu pau ficar ionizado e começar a atrair pedaços de papel. ontem ela, a jackie, entrou numas de orgasmo por sufocamento e pegou no armário a gravata do meu avô. eu ri, cara. eu ri pra caralho. tava com o prendedor da maçonaria que o velho usava. e eu me lembrei daquela história do relógio de pulso no cu do avô do christopher walken e soltei um girl, you’ll be a woman soon. no melhor estilo neil diamond. então não me venha com esse papo que diamantes são os melhores amigos das mulheres. a mina começou a quebrar tudo. espalhou cacos dos meus discos como se fossem cristais de colesterol num diagnóstico de sífilis. não, cara, eu tô limpo. ela que largou um número da super interessante no meu banheiro aberta bem nessa página. ela. a maldita jackie the ripper. não dá pra ignorar que a mina tem responsa na hora de deixar rastros. mas não vou aliviar a do dinamarquês não. nem o algo de podre do reino dele. mesmo que na reconstituição dos pedaços de papel tenha aparecido a fotografia dela. agora eu tô limpando a sujeira toda e tirando coágulos do nariz. sabe o que é mais engraçado, cara? a porra da bactéria da sífilis se chama treponema pallidum.

publicado originalmente na revista clitoris.

segunda-feira, 28 de maio de 2012


sábado, 26 de maio de 2012

e pra completar sua coleção Sabrina, tá no ar a terceira edição da Revista Clitoris.

eu vou sentar na tua frente como uma dermatologista cheia de diplomas pendurados na parede e perguntar se você anda descamando teu coração com ácido retinóico. e se continua mandando suplementos vitamínicos goela abaixo pra substituir alguma ausência. te dar ainda o cartão daquele marceneiro pra que ele derrube de vez as inúteis certezas que você nina na parte de cima do beliche. vou te contar a melhor piada de filme de ação iraniano enquanto você joga uma azeitona no seu martini. vou te fazer uma carícia pela metade pra te lembrar de fazer a barba. e - não posso me esquecer disso - acertar o despertador pra deixar de te perder na hora errada.

sexta-feira, 25 de maio de 2012


aí eu me peguei abraçando um gnomo de jardim, trocando freud por frodo na cara dura e tentando convencer meu plano médico a bancar isso. falei pra moça do atendimento que até a minazinha do crepúsculo tava nessa de resolver aquele perrengue todo com o vampiro purpurinado encarando uns anões. o que pareceu até perspicaz de minha parte porque entrou nessa coisa cabalística do número sete e a tal moça era fã da madonna. se dizia até peronista por conta daquela chatice de filme. eu disse a ela, é isso. é exatamente isso. eu ando chorando demais e você pode me chamar de argentina se quiser. mas esse nome não constava da lista de associados do convênio e ela ameaçou me delatar por falsa identidade. a santa ignorância deixou de ser exclusividade de inimigo do batman faz tempo. desliguei o telefone num soc! tum! pow! e carreguei minha trouble deep pro bar. isso aqui não é hollywood. a gente se vira como pode.

quinta-feira, 24 de maio de 2012


hai-jew

ela disse que sofria de um suave antissemitismo
e emendou
é alguma coisa com seu nariz
eu vesti minhas calças
e meu desvio de septo
armei o segundo waza-ari
e era uma vez beatriz

hai-fly

quando for matar
uma mosca de banheiro
pense em william golding
oh, senhor do chuveiro

O Claudinei Vieira fez uma coisa linda pra mim no blog dele. E como me deixou sem palavras, fica o link pro Desconcertos.


segunda-feira, 21 de maio de 2012


ela tava falando baixinho, tipo aquela coisa pé do ouvido. a cama estreita, ela meio que me prensando na parede e dizendo que tava cansada. cansada da vida levar nada a lugar nenhum. aí a mina da sessão de gala meteu uma bala na boca bem no meio do almoço em família. no que eu fui pegar o controle remoto pra mudar de canal ele caiu e as pilhas rolaram para quinas diametralmente opostas. sempre acontece isso. tipo o pão que sempre cai com a manteiga pra baixo. essas pequenas leis cotidianas que vão construindo seus pequenos infernos como pirâmides de lego. o que eu poderia dizer pra ela, pra minha garota? ela me abraçou de um jeito que me pareceu inédito, algo entre um pedido de socorro e um bilhete de despedida. talvez exatamente àquela hora, em outro canal, os carinhas de capa amarela estivessem celebrando a quinta queda do guardinha num barril pelas cataratas do niagara. o pica-pau é o maior filho da puta que eu conheço, disse a ela. e ela sorriu. como que me entregando a deixa pra falar que isso é só uma coisa que acontece. isso da gente perder o controle.

sexta-feira, 18 de maio de 2012


balanço

aquisições

um pato de borracha pra banheira
uma jarra de suco em forma de abacaxi
uma semana de tosse ininterrupta

intenções e/ou pretensões

rever a cena de freddy krueger falando welcome to prime time, bitch
hackear o computador da bettie page
um porre na escócia pra me escorar na estátua de edwin morgan

segunda-feira, 14 de maio de 2012


ontem eu dei de cara com o steven seagal. não foi nada premeditado, eu só tava tentando colocar algumas coisas no lugar, parear umas meias e dar uma arejada no quarto. foi aí que ele entrou. veja que toda premeditação foi por parte dele. é impressionantemente contraditória a nossa falta de ação quando dá de cara com o steven seagal. eu nunca fui lá muito fã do cara, a única coisa que dediquei a ele nesse tempo foi a tecla de canais do controle remoto. perguntei como havia sido a temporada dele no japão e como ele tinha se safado daquele processo por ter matado um cachorro num reality show. ele ficou bem puto nessa hora. quer dizer, eu acho que ficou. a cara dele não mudou muito. mas ter bom senso em conversas improvisadas nunca foi meu forte. aí fui comentar a última luta daquele programa do belfort, um tal de bodão ganhou. e eu dizia: big goat, man. aí a coisa fedeu de vez. reality show definitivamente é assunto proibitivo quando você dá de cara com o steven seagal. pedi água. bati três vezes a mão no chão e ele me olhou com desprezo quando disse, volta a sonhar, garota. e saiu. pela mesma janela que entrou. quando o perdi de vista gritei: sabe como é gaivota em inglês? é seagull. panaca. 

domingo, 13 de maio de 2012


"Eu era ridiculamente parecido com a minha mãe, e tudo que ela via quando olhava para mim era um espelho com um pênis. Isso a incomodava, ela tinha problemas com a anatomia de seu corpo e não precisava de mais um penduricalho pra ajustar à sua falta de formas."

sábado, 12 de maio de 2012

sabe quando você começa a chamar saco preto de cachorro morto porque tudo o que você quer é perder a capacidade de discernimento? você tenta se lembrar do que escreveu naquela redação de vestibular cujo tema era aquela maldita legenda "isso não é um cachimbo" escrita em letras garrafais embaixo do desenho de um cachimbo. tudo em vão, não é? você só sabe que se levantou e calçou suas havaianas pra não derrapar nos tacos recém encerados. aí mandou um café pelando pra queimar sua goela e abafar aquela vontade de gritar. de berrar qualquer coisa em mu bemol na fila do abate. e por mais que você folheie as páginas da sua agenda de telefones, é na atendente dum sac qualquer que você vai encontrar algum consolo. quando ela te disser que se chama soraia e que aquele shampoo vai recuperar noventa e oito por cento dos seus cabelos. soraia. tinha que ser soraia. justo aquela que o mala do zeca baleiro queria ver queimada. a vida é foda, né, brother?

sexta-feira, 11 de maio de 2012

hai-pá-tuá

seu terceiro conselho
foi esse, enfim
se enforque com uma fita
do senhor do bonfim

hai-cof

ela fugiu
com um cara do bope
deixou um bilhete
toma essa, seu xarope

hai-kaio

se você soubesse, baby
que tua falta de lei
me derrubou mais
que uppercut do cassius clay

hai-jeans

aquela vadia
nem te falo
fugiu com minha velha wrangler
toda puída no cavalo

quinta-feira, 10 de maio de 2012

segunda-feira, no desconcertos, eu tava sentada lá fora e o claudinei saiu e me disse: o pai da paula tá aí! eu dei uma olhada e pensei: caramba, eu tenho quase a idade do pai da paula. o segundo caramba foi: a paula tem 24 anos! aí eu, do alto dos meus quarenta e poucos, com milhares de cabelos brancos, com tudo despencando numa velocidade maior que a da luz pensei: como é que eu sou amiga dessa mina toda gostosa, toda durinha, com acessórios privilegiados? não levei mais que trinta segundos pra sacar que o que existe entre a gente tá se lixando pra tudo isso. que a gente consegue rir das mesmas coisas bestas e chorar por coisas não tão bestas assim. que de certa forma a gente burlou esses anos de diferença em mesas de bar, em calçadas, prostradas num sofá assistindo law and order sem parar (é, claudio zoli, ficou pequeno pra você). mas eu confesso que sou sacana quando ela tá mal e me pede um abraço ou algumas palavras porque a única coisa que eu posso falar é roubada de nelson rodrigues: envelheça. talvez ela não saiba que muito pouca coisa vai mudar. talvez ela nem precise saber. mas de certa forma, hoje ela me obedeceu. feliz aniversário, paula klaus. eu te amo, garota.

terça-feira, 8 de maio de 2012


parei de fumar quando comecei a mastigar cigarros na frente do espelho. um maço por dia. um maço inteiro de dallas porque não existe hollywood pra mim depois de bogart. e não tem mais como a gente sempre ter paris se os ditadores de tendências torcem o nariz pruma casa branca. tinha um cara que só queria isso, ter uma casinha branca com varanda pra ver o sol nascer. deve ter se mudado pra algum desses países ao norte de lugar nenhum onde a noite dura seis meses. tá lá sozinho com uma vara de pesca metida num buraco no gelo. um lugar bem parecido com aquele onde o hunter thompson apontou uma arma pra uma máquina de escrever. é, cada um se vira como pode quando dá de cara com um iceberg, não dá pra gente ficar julgando ou achando que faria melhor. veja só, por aqui até o asfalto tá proibido e se você marcar touca leva uma tampa de bueiro na testa. a coisa tá num ponto que eu imagino que elas são lançadas pelos macacos de kubrick que tão putos da vida lá no esgoto. tão querendo a cabeça de darwin e na falta dela vai a nossa mesmo. com um pouco de sorte algum filantropo a embale num saco de papel marrom e a chame de jack ou de johnny. pena, cowboy, que vai ser tarde demais pra gente pedir on the rocks.



segunda-feira, 7 de maio de 2012


o casal sai do consultório médico num gol cl branco
95 ou 96
eles não se lembram
a apólice do seguro tá esquecida em alguma gaveta
emperrada
há tempos não arrombam nada
nem a impressão
de que tudo está no lugar

domingo, 6 de maio de 2012


você fica aí de punhetagem pra lua, me diz que te arrepia, e eu só olho pra tua cara quadrada esperando que ela - tua cara - diga, agora ajoelha e uiva. é, porque você tem essas de se dar ares de musa de da vinci e esperar uma compreensão ipsis litteris da minha parte. querida, eu tô longe disso. mais longe até do que esse satélite que você coloca em capricórnio pra justificar teus vacilos. tô pagando cada um deles. pagando com abdominais. porque pelo menos bíceps me parece algo tangível e em cãibra a gente mete gelol. de quebra vem até aroma de eucalipto e uma remota sensação de alívio nesse cotidiano insano que a gente se meteu. hoje eu até pensei em tatuar a planta desse apartamento nas costas, tipo prison break. porque eu tenho certeza que seria bem mais fácil sair dessa através de tubulações e poço de elevador. pode acreditar. eu não perdi nenhum episódio do macgyver.

sexta-feira, 4 de maio de 2012


"Você fica se perguntando até quando as coisas se repetem, se existe alguma lei miserável que te condena ao ciclo, se existe uma ínfima probabilidade do teto despencar na sua cabeça para que sua consciência pese. Você espera e a gravidade não te ajuda porque você é uma massa insignificante que não se torna eternamente responsável pelo que cativa. Você nunca cativou nada, nem ninguém. Você não tem o que fazer no mundo. Mas na gaveta de seu criado-mudo há uma caixa de Valium 10mg. Você toma um. Você toma dois. Três."

Panelinha Books

Capa: Rodrigo Sommer

Apresentação: Lourenço Mutarelli