segunda-feira, 21 de maio de 2012


ela tava falando baixinho, tipo aquela coisa pé do ouvido. a cama estreita, ela meio que me prensando na parede e dizendo que tava cansada. cansada da vida levar nada a lugar nenhum. aí a mina da sessão de gala meteu uma bala na boca bem no meio do almoço em família. no que eu fui pegar o controle remoto pra mudar de canal ele caiu e as pilhas rolaram para quinas diametralmente opostas. sempre acontece isso. tipo o pão que sempre cai com a manteiga pra baixo. essas pequenas leis cotidianas que vão construindo seus pequenos infernos como pirâmides de lego. o que eu poderia dizer pra ela, pra minha garota? ela me abraçou de um jeito que me pareceu inédito, algo entre um pedido de socorro e um bilhete de despedida. talvez exatamente àquela hora, em outro canal, os carinhas de capa amarela estivessem celebrando a quinta queda do guardinha num barril pelas cataratas do niagara. o pica-pau é o maior filho da puta que eu conheço, disse a ela. e ela sorriu. como que me entregando a deixa pra falar que isso é só uma coisa que acontece. isso da gente perder o controle.

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