é um tanto previsível o que acontece quando eu saio do meu apartamento. a vizinha velha e corcunda assiste datena o dia inteiro. em algumas madrugadas seu marido bêbado esmurra a porta. ela também assiste datena em algumas madrugadas. os taxistas do ponto cumprimentam o meu cachorro, fazem sempre a mesma piada. e eu sempre dou risada. um velhinho alimenta pombos com milho sempre no mesmo horário. certa vez ele me contou que resolveu usar um boné pra ver se os pombos o reconheciam. eles o reconheceram. grupos de funcionários de várias empresas saem para o almoço. é sempre o mesmo padrão. um gordo que tenta ser engraçado, uma japonesa que ri, um cara com calças apertadas demais que fala ao celular, outro que anda pouco atrás fumando um cigarro, uma gostosa que manipula os cabelos sem parar e tanta não fincar o salto nos buracos da calçada. o pedinte parado à frente da padaria perguntando se sobrou alguma coisa. as pessoas respondem que pagaram com cartão. alguém me pergunta como faz para chegar na beneficência portuguesa. alguns adolescentes fumam um back numa rua pequena, depois se beijam. uma senhora que ficou viúva recentemente me conta que tá difícil manter o apartamento agora grande demais. a maioria dos pedestres passa batido pelo despacho na esquina e pelas faixas de segurança. meu cachorro se recusa a fazer um caminho diferente. ele parece estar seguro de algumas coisas. eu o acompanho.
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