quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

“Sou ótimo para duas coisas: catar pulgas e perder aquilo que amo.”
“Por que você troca constantemente de mulher?
A maioria das fulanas com quem saio são apresentadoras de televisão e ninguém, a menos que seja um retardado, suportaria estar com elas mais de dez minutos seguidos.”
“O que lhe desagrada nos grandes escritores deste século?
Que, com exceção de Bukowski e um servidor, todos escreveram para o século passado. A literatura lhes interessava mais do que a vida.”
“Hoje qualquer um é chamado de artista. Um mico de telenovela, uma bichinha de museu, uma puta de revista. Qualquer um que grite pode ser chamado de artista. Conheci pessoas por aí sem ofício algum e no entanto cheias de uma vitalidade extraordinária, para mim são artistas. Note-se que um escritor famoso com o tempo pode degenerar em múmia de eventos sociais ou num babaca de televisão. Já o artista não tem opção, é um fracasso à prova de eternidades.
“Um ator, cantor etc. podem ser chamados de artistas sim, mas no mesmo sentido que uma merda de cachorro também poderia.”
“Os gatos são criaturas sóbrias que na medida do possível procuram esconder a merda. Nós ao contrário abrimos livrarias, museus, cinemas e todo tipo de lugares para mostrá-la.”
“A palavra, por ser um elemento cotidiano, nos parece penetrável. E isso é um engano, a palavra é mais hermética do que a física moderna, a palavra é uma armadilha mortal.”
 Efraim Medina Reyes, no livro Era uma vez o amor mas tive que matá-lo.

Tungado do Pinduca.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Uma necessidade urgente de te ouvir sussurrar meu nome em rotações de vinil. Daquele jeito riscado que só você consegue.
-Sabe como é, né? Resoluções de fim de ano e tal.
-Sei. Esperança besta de mudança.
-Por aí.
-E você ainda perde tempo com isso?
-Pouco. Listo umas duas coisinhas e pronto.
-E quais são?
-O que?
-As duas coisinhas.
-Nada demais. As mesmas do ano passado.
-Vai insistir?
-Caprichei um pouco mais na intensidade.
-Sei, pressionou um pouco mais a caneta.
-Nada. Negrito no word.
-Hum.
-Quem sabe, né?
-É. Quem sabe.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Preciso com urgência de alguém que goste de cachorros, com CNH em dia, para conduzir o comprovadamente não emissor de gases tóxicos Cabeção até a praia, porque ultimamente até minha existência está ilegal. Inclusos no pacote a hospedagem, a ceia de natal e um pião de Chanukah vintage.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Gabriela Santee tinha 17 anos de idade e estava grávida de três meses quando se casou com Johnny "Sônico" Makhurst, piloto de testes da Boeing e herdeiro recente de modesta fortuna proveniente de uma casa de ferragens em Ohio. A cerimônia se deu em um hangar todo enfeitado de papel crepom, no campo de aviação Moffit, e foi testemunhada por vários amigos bêbados de Johnny "Sônico". Noiva e noivo trocaram votos em pé, na asa de um jato de combate X-77. Dois meses antes de Gabriela dar à luz, essa mesma asa despencou do avião, a 800 milhas por hora, sobre o deserto de Mojave, com Johnny "Sônico" nos controles. Após amarga querela na justiça com uma das ex-esposas do finado marido, Gabriela herdou sua propriedade.
Em 7 de março de 1958, nove dias antes do terceiro aniversário de Johnathan Adler Makhurst II, Gabriela o levou à represa Plomona para pescar bluegill e fazer um piquenique. Uma chuva repentina varreu o lago pouco antes do meio-dia; despachou os dois, correndo, de volta para o carro. Juntos, no assento da frente, partilharam seu lanche favorito: cachorro-quente, picles, batatas fritas e soda limonada. Quando acabaram de comer, aconchegaram-se no assento da frente e ficaram olhando a chuva cair, persistente, no lago.
-Você acha que vai parar, Johnny, ou devemos desistir? - perguntou Gabriela, mas Johnny tinha adormecido.

(Ganhei esse livro de um aluno no último dia de aula. O prefácio é do Marçal Aquino que diz que Fup, em lugar de leitores, conquista devotos. Fiquei com a impressão de Nunca te li, sempre te plagiei.)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

-Mundinho besta esse, não?
-Se é.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

E vamos passando recibo porque era uma vez a etiqueta mas tivemos que eliminá-la.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

E o próximo episódio de Jarb-Ass será rodado em Galápagos, onde 57 dragões de Komodo se voluntariaram para fazer figuração levantando a falange indicadora e gritando Uuuuuuuuuuhhh. Nessa mesma ilha perdida em algum canto do Pará está a sede da clínica Darwin de evolução, que conta com ampla estrutura patrocinada pelo Mercado Livre e coíbe  veementemente a presença de vampiros com glitter e qualquer menção ao assunto projetos. No mais, a diretoria torce para que todos estejam bem de tártaro.

sábado, 4 de dezembro de 2010


Tem dias que deveriam ser imortalizados em Blu-Ray ou qualquer merda dessas às quais eu não tenho acesso mas que garantem uma imagem perfeita. Só para arquivo, para uma despretensiosa posteridade, numa embalagem plástica como as que você encontra na Santa Efigênia por poucos centavos. Porque te fazer rir e ver tua empolgação com as páginas que te entreguei tem que ser simples assim. Como sacar um filme da estante e repetir a cena onde o vazio do compartimento para cartão de crédito não tem a menor importância.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

It's seven in the morning. Somebody better be dead.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Eu ria pacas com esse cara.

terça-feira, 23 de novembro de 2010


Às vezes eu tenho vontade de te ligar para falar umas coisas bobas. Falar que você pode se cadastrar na promoção do celular e pagar apenas 25 centavos na ligação. Falar para você não ser distraído como eu e deixar um tubo de sapólio ao lado do de shampoo porque o cabelo fica uma merda. Falar que o ralo da banheira tá entupido e entalado e que jogar óleo de cozinha não adianta. Falar também que a reforma do prédio ao lado começa cedo e a britadeira me acorda. Que na sexta-feira eu estava na TPM e fiquei com um nó na garganta na fila do Bradesco, só porque o cara à minha frente usava um perfume barato que me deprimiu. Que eu achei que 22 reais não dariam pra pagar o último táxi que peguei e isso me agoniava na frequência de mudança do taxímetro. Eu fiquei devendo quarenta centavos, queria te falar isso também. Que eu me divirto quando sai quebra pau no site de discussão de jogos. Que as batatas que eu comprei acabaram brotando e que lançaram por tempo limitado um Hershey´s aerado. Que eu sou incapaz de organizar meus filmes e por isso os escolho ao acaso. Que eu estou relendo os 64 contos do Rubem Fonseca porque histórias longas têm me feito dispersar. Que eu matei um pernilongo de madrugada, na primeira tentativa, mas não achei seu corpo.  Tenho vontade de te ligar só pra te dizer, ouvindo teu difícil sorriso do outro lado da linha, que, às vezes, é simples assim.

domingo, 21 de novembro de 2010


-Pai, essa camisa tá muito apertada.
-Mas eu comprei na Zara.
-Tá, mas não ficou legal.
-Bom, na próxima vez compro no Zacó.


sexta-feira, 19 de novembro de 2010


Vou lá prestigiar o, segundo Mirisola, "crássico". Com a bênção do texto do Márcio Américo e os impagáveis Batata e Wiltão.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

-Paixão antiga sempre mexe com a gente
-Ah, não, Tim. Já não bastou o Erasmo agora vem você?
-É tão difícil esquecer
-Se é, meu caro. E não tô acreditando que você apareceu
-Basta um encontro por acaso e pronto
-Acaso nada, eu sei onde ele vai
-Começa tudo outra vez
-Não é bem assim, eu me faço de difícil
-E vendo você
-Palpita tudo, né?
-O coração parece que vai saltar
-Tá, saltar, palpitar, dá na mesma
-Pelo meu corpo saudade em todo lugar
-Nem me fala, uns lugares que nem nome científico têm
-E eu, sem disfarçar, te como com meu olhar
-Cara, eu emagreci pacas, vai ver que é essa coisa de comer com o olhar
-Foi bom demais, não tinha que acabar
-O único amor que dura é o não correspondido
-Meu bem, quando eu te vi, tudo voltou
-Já não disse que sei onde ele vai? É óbvio que vai me ver.
-E eu compreendi
-Taí nossa diferença
-Que eu te amo, quero, adoro sempre mais
-Pensando bem, somos bem parecidos
-Deixa o coração te seduzir
-Tenho arritmia. É sério.
-Não dá mais pra disfarçar
-Não dá mesmo, eu fico vermelha
-Deixa o sentimento decidir
-Desde quando sentimento decide alguma coisa?
-Já é hora de voltar
-É... Pra realidade... Peraí, volta, me dê os motivos de tudo isso. Amor não dura sete mares? Porra, Tim...
Agora é isso. Não posso assistir filme noir que me apaixono irremediavelmente pelo protagonista de tiradas sarcásticas e simulado desprezo por mulheres fatais. Bola da vez: Alan Ladd do alto de seus 1,65 m em A Chave de Vidro, adaptação do romance homônimo de Dashiell Hammett. Ligando agora pro chaveiro. Oi, aqui é Veronica Lake e a coisa é urgente.
-Desculpa não ter respondido sua
-Tá tudo bem.
-É que, você sabe, eu
-Eu sei.
-Isso de você saber tudo, o tempo todo, é embaraçoso. E além de tudo tem
-Ausência de reciprocidade.
-Você não deixa eu terminar uma frase e
-Eu tiro minhas próprias conclusões.
-Essa sua arrogância
-Dê o nome que quiser, não importa mais. Vai, joga.
-Eu passo.
-Foi o que eu imaginei.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

- Este quadro é de Jackson Pollock, não é?
- Sim.
- O que ele representa para você?
- Ele representa a negatividade do universo. O abominável e solitário vazio da existência. O Nada. A condição do Homem forçado a viver em uma árida eternidade desprovida de Deus, como uma breve chama piscando no imenso vácuo com nada a não ser lixo, horror e degradação, presa em uma inútil camisa-de-força em meio ao cosmo negro e absurdo.
- O que você pretende fazer sábado à noite?
- Cometer suicídio.
- Hum... E na sexta?


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

PS.: No mais, saudade daquele nosso rock and roll.

sábado, 13 de novembro de 2010

Tem dia que amanhece errado, como as grandes esperanças de Dickens esquecidas num sebo qualquer.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

E um amável casal que acaba de se mudar toca a campainha. Pedem um saca-rolhas, animadíssimos. Emprestei. Daí não sei porque fui me olhar no espelho e dei de cara com uma poça de requeijão nos meus lábios. É, poetando para diminuir o mico, porque tudo que me veio à cabeça foi aquela cena de Quem vai ficar com Mary? Não creio que peçam mais alguma coisa tão cedo.
Eu não sei cuidar de flores. Matei um cacto, te contei?

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Você coloca no DVD Player A Tree Grows in Brooklyn, do Elia Kazan, e é presenteada com um show de uma cantorazinha pop australiana que fica repetindo nananananana. Então você o coloca na pilha onde descansam filmes com legenda apenas em chinês e outros que travam no primeiro plot point. Por sorte você tem outros do Kazan e leva de brinde o Gregory Peck que se passa por judeu por oito semanas para escrever uma matéria sobre antissemitismo. Você adormece logo após o The End e acorda com o telefone. Você me mandou um torpedo com um asterisco? Além do meu hotmail, que eu já tentei eliminar de todas as formas possíveis, estar espalhando vírus, meu celular anda espalhando asteriscos. E eu me olho no espelho e tomo um susto porque estou, legalmente, loira demais. E agora pra feira. Avante. É isso, mulher!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A gente se mete a escrever porque não sabe lutar boxe nem tem colhões para isso, porque tem os dentes tortos e não pode sorrir como gostaria, porque para os impotentes de todo tipo não há outro caminho, porque todos os feios escrevem ou assassinam e a gente não é capaz de matar nem uma mosca, porque escrever dá importância, porque para chamarem alguém de escritor não é preciso escrever bem, mas para chamarem de filho-da-puta não importa se sua mãe é uma santa, porque tem medo de ficar à deriva sem fazer nada, porque não pode beber toda noite, porque ama a Deus mas odeia as sociedades sem fins lucrativos, porque não tem namorada, porque não há emoções mas insultos, porque na sua casa não tem televisão e o rádio quebrou, porque a mulher do vizinho é gostosa, porque tem medo de ficar careca e por isso evita os espelhos. A gente se mete a escrever porque não se atreve a assaltar um supermercado, porque ama a mulher e ela é namorada do garoto esperto da rua, porque não há revistas pornográficas suficientes, porque quer fazer alguma coisa além de cagar e se masturbar, porque não é o garoto esperto da rua nem o garoto forte nem o engraçado, porque é o garoto nada, porque não vale um tostão furado, porque apanha lá fora, porque sua mãe grita o tempo todo, porque não há ilusões nem luz no fim do túnel, porque sua mãe grita o tempo todo, porque sua mente voa baixo e nunca será outro Cioran, porque não tem coragem para saltar, porque não quer a esposa feia que merece, porque tem medo de morrer sem ter comido um belo cuzinho, porque não tem pai, amigos, nem fortuna, porque não tem o jeito de cuspir do Clint Eastwood, porque se paralisa entre uma e outra intenção, porque era uma vez o amor mas eu tive que matá-lo.

Efraim Medina Reyes 

(N.E.: a gente se mete a escrever porque é a cara do Paulo Ricardo e não suporta isso)


Tungado do Carcarah, com exceção da infame nota do editor, que é minha.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Se você realmente me quer, vai ter que vir até mim.
Ele vai.
The End.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Pra começar a semana. Mazel Tov!

domingo, 7 de novembro de 2010

O filme é Brilho eterno de uma mente sem lembranças. A cena é a seguinte, o personagem do Mark Ruffalo estaciona seu furgão e desce.
-Esse Mark Ruffalo é meu sonho de consumo.
-Ah, eu também me amarro num furgão, mas acho o Smart bem mais prático.
E ainda faltam 499 filmes...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A gente nunca devia contar nada a ninguém. Mal acaba de contar, a gente começa a sentir saudade de todo mundo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

 Ser solidário é oferecer o pescoço ao sacrifício.  Se for o caso, contrariar os próprios interesses em favor do injustiçado. A mesma lógica que funciona para quem dá sem esperar algo em troca – por desapego. E mais, sem esperar reconhecimento e/ou retribuição: uma vez que a solidariedade é mais do que um gesto, pois se trata de doação. E a doação não aufere pesos nem medidas: mesmo porque o injustiçado pode ser um canalha e a justiça pode se revelar uma injustiça cabeluda. 
Tem mais. Não julgar sob hipótese alguma. Sobretudo aquele que é incapaz de agir da mesma forma que você (porque existe a grande possibilidade de que você também esteja errado ...) portanto, ser solidário é encarar o cuspe como se fosse o beijo e vice-versa. A partir daqui, em tese, subiríamos um degrau. Vamos falar de compaixão. Que nasce da solidariedade gratuita: o tipo de sentimento que jamais ameaça ou condena, apesar de todos os pesares. Algo que se compartilha de igual para igual, nem de cima para baixo nem de baixo para cima. Daí brota o perdão, quase que despercebido. Nem precisa ser nomeado. 

Marcelo Mirisola

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

-Então, você já está na idade da loba, já passou por todo tipo de relacionamento e agora que tá aí, toda apaixonada por aquele cara, tem agido como adolescente. Você não pode esperar um pedido de casamento por conta de algumas coisinhas que você fez com a presunção de tornar óbvia a sua intenção. Não é assim, ele pode não ter percebido nada. E, além do mais, você não é tão óbvia quanto pensa. Tó, leia esse livro.
-Ai, autoajuda?
-Dri...
-E se ele fizer parte dos homens que correm das lobas?
-Dri...
-Tá bom, tá bom, eu leio.

domingo, 31 de outubro de 2010

-Um dia aí, à noite, eu estava com insônia e comecei a gargalhar sozinho.
-Por quê, pai?
-Uma piada que eu inventei.
-Que piada?
-Então...esqueci.
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-Eu sempre me lembro, no banho, daquele seu post sobre como matar moscas de banheiro.
-É um dos meus prediletos.
-Mas você não tá gastando muito shampoo com isso?
-Não, eu uso a espuma que se forma.
-Ah tá... Será que já existe patente pra Shamposca?

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Vai ficar tudo bem, baixinho.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010


Bettie Page?
Ou Pamela Anderson?

E ele queria usar palavras como sobrolho, vicissitude, tergiversar, queria contar que esteve na Antuérpia e pegou um trem, que tragava fumaça de charutos e caçava alces numa savana qualquer. Queria dizer que admirava Egon Schiele e que carregava no bolso a herança de um tio distante. Ele queria falar das alergias que teve na infância e de um matadouro de porcos que funcionava atrás do armazém. Queria dizer que tinha um problema no coração e que às vezes o ar lhe faltava. Que adormecia em filmes longos e que não tivera filhos. Que eram poucos os sonhos dos quais se lembrava. Que desconfiava que não sonharia mais.

sábado, 23 de outubro de 2010


Havia um boticário na Rua do Boticário. E ele deveria continuar lá porque o estado de letargia no qual saímos, Mimi, Cocó e Cocotinha, daquele balcão daquela feijoada daquele boteco daquele garçom que rabisca contas à lápis naquele balcão é grave. Grave a ponto da Galeria Olido parecer estar no Texas. Grave a ponto de pegarmos um elevador estilo anos 20 para subir um andar e acabar com o estoque de água daquele estúdio de tatuagem e jogar o copinho num amável lixo da marca Pork´s. Mas gravidade é coisa da cabeça do Newton, ou na cabeça do Newton. E como grávitons nunca foram detectados e eu nunca entendi o espaço curvo de Einstein, que venha o próximo sábado.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010


Bem alto
porque, baby
We'll get wild, wild, wild
E assim foi. Passaram-se anos que ele marcava em cartas de baralho. E se sentava em frente à lareira e tomava um conhaque e pensava em amendoeiras. E se levantava para atiçar o fogo quando esse fraquejava. E tornava a se sentar e beber e pensar que sentia falta dela. E pegou a dama de copas com a data de 1995 e a jogou no fogo. E a viu queimar até virar cinza. E voltou a pensar em amendoeiras.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ela levantou o lençol e disse não é ele. Eu perguntei tem certeza? Ela respondeu que sim, que haviam se conhecido numa feira de venda de automóveis e ele procurava um Buick 1976. Eu insisti na pergunta e ela me ofereceu um café. Eu disse não, obrigado. E ela ligou a cafeteira e me perguntou se eu tomava puro. Eu falei que sim, com pouco açúcar. Ela então me serviu e apoiou a mão na chapa ainda quente. Eu disse até logo e deixei meu cartão sobre a mesa.
 
- Olha, a gente precisa sentar e conversar.
- Tenho hemorróida. É muito importante?
- Não... Deixa pra lá.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

"Porque o brasileiro, o ser humano em si, é o tipo de espécie que só aprende quando apanha na cara."

Do flanelinha da rua.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

inverto Garret
só pra dizer
que não te quero
amo-te
Por que não dançam? (um trecho)
Raymond Carver 

Na cozinha, ele serviu-se de outra bebida e olhou para a mobília de quarto que estava no jardim da frente. O colchão estava despido e os lençóis de riscas cor-de-rosa dobrados junto de duas almofadas em cima da cômoda. Tirando isto, as coisas estavam dispostas quase da mesma maneira como tinham estado no quarto — mesa-de-cabeceira e lâmpada de leitura do seu lado da cama, mesa-de-cabeceira e lâmpada de leitura no lado da cama dela. O seu lado, o lado dela. Pensou nisto enquanto bebericava o whisky. A cômoda encontrava-se a curta distância dos pés da cama. Passara os conteúdos das gavetas para dentro de caixotes nessa manhã, e os caixotes estavam na sala de estar. Havia um aquecedor portátil junto da cômoda, e uma cadeira em verga com uma almofada decorativa aos pés da cama. Os móveis da cozinha em alumínio polido ocupavam uma parte da entrada para a garagem. Uma toalha amarela de musselina, demasiado grande, que lhes tinha sido oferecida, cobria a mesa e pendia dos lados. Um feto dentro de um vaso estava em cima da mesa, junto de uma caixa com talheres e um toca-discos, também ofertas. Um grande televisor, modelo de cômoda, estava pousado sobre uma mesa de café, e a alguns passos desta encontravam-se um sofá e uma cadeira e uma luminária de pé. Tinha ligado uma extensão à tomada e havia electricidade, as coisas funcionavam. O gaveteiro estava encostada à porta da garagem. Havia alguns utensílios em cima do gaveteiro, junto com um relógio de parede e duas gravuras emolduradas. Havia ainda na entrada para a garagem um caixote com copos, sopeiras e pratos, cada um dos objetos embrulhado em papel de jornal. Naquela manhã ele esvaziara os armários e, com exceção dos três caixotes na sala de estar, estava tudo fora da casa. Uma vez por outra um carro abrandava e as pessoas olhavam. Mas ninguém parava. Ocorreu-lhe que também ele não pararia.

Uns sintomas físicos estranhos, órgãos inomináveis em rebelião interna, neurônios fora de ressonância, coceira em movimento browniano, percolação direcionada de brotoejas, batimentos cardíacos em efeito Doppler, difusão de Bohm dos sentidos. Abstinência de House.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Haas gostava de sentar no chão, encostado na parede, na parte sombreada do pátio. E gostava de pensar. Gostava de pensar que deus não existia. Uns três minutos, no mínimo. Também gostava de pensar na insignificância dos seres humanos. Cinco minutos. Se não existisse a dor, pensava, seríamos perfeitos. Insignificantes e alheios à dor. Perfeitos, caralho. Mas lá estava a dor para foder com tudo. Por fim pensava no luxo. O luxo de ter memória, o luxo de saber um idioma ou vários idiomas, o luxo de pensar e não sair correndo.

2666. Roberto Bolaño.
"May the force be with you"
Porque tem acontecido muita coisa boa. Como se, de fato, a vida começasse aos 40.

"há certo encanto neste mundo
mesmo que ele seja visto
por alguém como eu"

Lalo Arias (que não é o General Dodonna aí de cima)

sábado, 16 de outubro de 2010


Eu não gosto daquele boteco. Mas eu gosto daquele cara. Eu nunca consegui falar explicitamente isso pra ele, mas eu arrisco uns gestos desajeitados. Creio que no fundo ele saiba e até retribua parte da minha admiração. Ele já escreveu algo sobre a vida ser essa coisa de mão dupla, newtoniana, ação e reação. Não usou exatamente essas palavras, ou não as usou nessa ordem. Não importa. Hoje eu vou falar: Escuta, eu... aí alguém vai quebrar um copo e desviar sua atenção. Talvez role uma briga na esquina.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010


Razão em modo off. Tentativa de recuperação através de faxina alucinada. Trilha sonora de aspirador. Simulação de lançamento em 3, 2, 1. Zero.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010


Bandeira 3.
Outro curta com roteiro meu e direção da Denise Vieira, responsável também por essa arte.
Dois velhinhos. Um atropelamento. O que fica na garagem. O que não tem mais tempo. E uma boa dose de humor judaico, claro.