sexta-feira, 29 de junho de 2012


sentou-se na beira da cama
pegou um palito
foi tirando a sujeira das unhas
uma a uma
dos pés dela
gostava daquele esmalte
perolado
dizia que ela tinha pés
de ostra
pensou em patentear
um talher
uma ferramenta
para abrí-las
tirou da estante
o volume 7 da barsa
desgrudou as páginas
grifou uma frase com tinta nanquim
esperou secar
trocou a água do vaso
de flores
e a pastilha do repelente
elétrico
dobrou a colcha ainda espetada
com agulhas de crochê
ouviu o gato miar
o apito da chaleira
um logo após o outro
ou foi o apito primeiro
limpou o suor das lentes
dos óculos
arrancou uma pena do
espanador
riu porque não sentia cócegas
e porque ela também não
então fechou as cortinas
e os olhos dela

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