quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012


garota, deixa eu te dizer uma coisa. pode continuar ajoelhada se quiser. eu gosto de encarar tua testa cheia de rugas simuladas. mas não espere que eu siga acreditando naquele velho trauma que você plantou na tua infância. eu não vou mais afagar teu rosto ou desfazer a trança do teu cabelo. nem olhar pro retrato da tua avó e dizer que você se parece com ela. não me interrompa mais quando eu estiver cara a cara com charles bronson para que eu assine uma petição pública a favor de um injustiçado qualquer ou de um cara do greenpeace que bate punheta pra animal em extinção. você sabia, garota, que nenhum mantra de buda declamado em posições ridículas de ioga mudaria as coisas por aqui. você não é exatamente uma pollyana só porque decidiu montar uma casinha de bonecas com soldadinhos de chumbo. eu cansei de peneirar tuas lágrimas com promessas sacadas de almanaques. eu cansei de te ver fingindo que acreditava enquanto amarrava no pulso uma fita do senhor do bonfim. não tem nada disso, garota. por mais que você se esforce. por mais que você aperte os nós. gangrena não é algo tão instantâneo assim.

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