segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012


rápida nota sobre a exposição de henri matisse

sabe aquela impressão de você ter engolido um semáforo como se fosse a tríade de suas decisões? não, você não sabe. você jogou chemicolor na faixa de pedestres onde eu ralava meus joelhos na mais ridícula oração que eu fui capaz de fazer. ou onde eu esperava que uma mini-van lotada de velhinhos que visitaram a pinacoteca me atropelasse. ali parada. feito aquela coisa do peru ficar voluntariamente prisioneiro de um círculo de giz. eu fico esperando que você finalmente baixe aquele royal flush sobre a mesa e acabe com tudo. com as minhas fichas. com meu caixa dois. com as articulações dos meus tendões que ainda me deixam ao pé da letra. então eu financiei um carro velho só pra parar de madrugada naquela loja de conveniência do posto de gasolina e pedir um pacote de rimas baratas não perecíveis. o cara olhou pra mim e depois pra câmera de segurança. não era meu melhor ângulo. não era a cara que eu tinha quando te enfiei goela abaixo minha vida e pouco depois uma dose generosa de leite de magnésia. talvez eu devesse ter escrito frágil ou este lado para cima na embalagem. mas eu ando relapsa. eu ando te delegando todas as minhas ações na tola esperança de que você não as rebata. mas você sempre se preveniu. você comprou aquela maldita raquete elétrica que torra mosquitos. é cruel, meu amor. eu desmaio com gosto de sangue e você sabe disso.

(publicado originalmente na revista clitoris)

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