podia ter sido no banco traseiro de um buick 1976, pneu furado e tals, numa estrada poeirenta no meio de lugar nenhum. no meio do arizona. podia ter um suadouro, mas cá entre nós, eu estaria em pânico só com a possibilidade de um mexicano asesino en serie me obrigar a pagar boquete prum cacto. aí foi naquele motel escroto com cheiro de puta vencida e cocaína adulterada. ou ao contrário. eu embaralho as ideias da mesma maneira que você embaralha minhas pernas e eu te roubo atitudes assim mesmo, na cara dura. até quando minha boca está mastigando espuma de travesseiro vagabundo pra suportar a torção do meu braço sobre minhas costas. podia ter sido na escada de um predinho de três andares porque um trouxa abriu a porta pra pegar a comida chinesa. eu estourando sachês de shoyu com meus joelhos em carne viva. você dizendo pra velha sonâmbula que não consegue gozar com cheiro de leite de rosas e atirando o tênis na lâmpada de emergência. mas foi naquele fiapo de luz artificial que vazava pelos buracos de traças e iluminava teu movimento doente e - ah, como eu agradeço a isso - isento de delicadeza. podia ser um resto tosco de dignidade mas é só você pedindo um tempo para arrancar meus fios de cabelo do seu relógio de pulso. eu espero, baby, eu espero.
(publicado originalmente na revista clitoris)
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