o sol atinge seus olhos com raios homeopáticos e você mal se livrou daquele sonho estranho. ele insiste. ele insiste naquela sua corrida sem obstáculos. no meio do nada. ele tem até as manhas de tirar uma da sua cara na hora em que o vin diesel passa, veloz e furioso, num corvette grand sport 1966. você até arrisca o gesto do carona mas quando você consegue mover as mãos você tá mandando um cool pra porra de um cacto. o foda é que agora você tá acordado queimando seus miolos numa ridícula tentativa de interpretar seu subconsciente. vou te falar, meu irmão, essa é a pior cagada que você pode arrumar pra sua vida. era vera o nome dela, não era? pelo menos é o que me lembro de ter lido naqueles seus poeminhas rabiscados. é, era vera sim. você a metia em rimas fáceis, fazia toda uma brincadeira com prefixos e reticências. você a chamava de ponto e vírgula por conta daquele defeito quase imperceptível. eu não sou lá um expert em coisas desse tipo mas acho que você machucou a garota. machucou um bocado. aquilo que chamam de ferir sentimentos e tals. aí você socava suas culpas nas fuças de um coitado que tava só esperando o ônibus cedo demais. o cara tava só evitando horário de pico mas teve a audácia de te dizer bom dia. cá entre nós, meu caro, bom dia, de vez em quando, é a melhor coisa que você tem pra falar se não for ficar quieto. cola mais que in vino vera está. o verso estúpido que você colocou numa garrafa de malbec. agora tá aí, esperando a próxima enchente pra mandar sua obra prima. eu, se fosse você, não contaria com a previsão do tempo. os caras erram pra cacete.
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