te chamam de anjo torto que tateia no escuro procurando a terceira asa. te exigem um equilíbrio estável quando você caminha descalço sobre pregos. te mandam suportar a felicidade da última fotografia dos teus avós e dizem, é só passar um pano úmido na moldura. e aí você se dá conta que um pano úmido é tudo o que você tem. e você pode, veja só, esfregar tudo o que você tem na cara de um desavisado que anda de um jeito esquisito demais pra chegar a algum lugar. talvez do mesmo jeito que você andava quando teus pais meteram botas ortopédicas nos teus pés e aviaram uma receita falsa de convivência pacífica. você não consegue se lembrar do rosto da primeira garota que amou, a que se sentava três carteiras à sua frente. mas naquela aula de biologia você aprendeu que o que te cerca se chama epiderme e você gargalha ao perceber que pode esfacelar o que te cerca com uma gilete. opte por uma marca vagabunda. vai te custar menos de um real.
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